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Os Africanos

By Antonio Nóbrega | 26 outubro 2017 | Sem Comentários


 

 Costa da Guiné, Uidá, Golfo de Benim, Forte de São Jorge de Mina, Fortaleza de Ajudá, Luanda, Benguela, são os nomes de alguns portos e regiões da África de onde, por mais de três séculos, em insalubres porões de navios, negros foram despachados para o Brasil. Embora se estime em torno de cinco milhões o número de africanos obrigados a deixar suas famílias, clãs, aldeias, cidades, reinos e puderam, ao desembarcar, ser encaminhados para o trabalho em lavouras de cana, café, algodão, fumo, cacau, interiores das minas, criatório de animais e serviço doméstico, é provável que um número considerável desse contingente tenha sido amortalhado pelas águas do Atlântico.

Quem eram esses homens e mulheres? De quais regiões africanas vieram?

O nosso continente-mãe – não fosse a ausência de terras à nordeste e sua configuração seria idêntica à do Brasil – se derrama através de  30.000.000 m2 de superfície numa extensão de norte a sul de 8.000 km e de 7.600 km de leste a oeste. Dividida em cinco grandes regiões, a África tem uma magnitude que não se restringe ao fato de ter sido o berço da nossa espécie. É lá ainda onde se encontram os maiores desertos, savanas, florestas, rios e lagos do planeta, onde são faladas um terço das línguas existentes no mundo e vivem centenas de etnias que se distribuem entre cinquenta e cinco países.

Uma classificação ainda corrente das etnias trazidas para o Brasil, nos foi dada pelos precursores dos estudos afro-brasilei­ros no país, Nina Rodrigues e Arthur Ramos. Ela se apoia na ideia de que os povos que vieram para o Brasil seriam representadas por dois grandes grupos ou macroetnias: os sudaneses e bantos. Os primeiros seriam provenientes da vasta região que fica ao sul do deserto do Saara, denominada pelos árabes que ocuparam  norte da África de o “país dos negros” – Bilad-Es-Sudan. Reuniriam as etnias Iorubá, Ketu, Ohori, Ifonyin, Anagô, efiks, ibipios, Adjás, Mahis, fon, ewe, mahi, as islamizadas haúças, mandingas e fulas, entre dezenas de outras. Essas etnias ocupariam as regiões onde hoje se encontram o Sudão, Chade, Níger, Togo, Guiné, Benim, Nigéria e Costa do Marfim.

Os bantos, de longínqua e antiga origem, habitariam a extensa faixa de terra onde atualmente se encontram Angola, Congo, Zaire, Namíbia, Zâmbia, Tanzânia e Moçambique. Fariam parte dessa grande família as etnias Cabinda, Benguela, Macua, Angico, Caçange, Rebolo, Muxincongo, Moçambique, Monjolo, Quimbundo, Umbundo, entre também inúmeras outras. As línguas faladas pelos sudaneses e bantos fazem parte  do maior conglomerado linguístico do mundo, o tronco nigero-congolês, que reúne 1524 idiomas. Entre aqueles mais falados no Brasil estariam, pela lado banto, o quicongo, o quimbundo e o ambundo, etc., e pela linhagem benuê-congolesa, o Iorubá, o fon e o ewe.

Embora tais línguas não sejam faladas no cotidiano brasileiro, o rastro de suas presenças está em toda parte. A mesma presença que se observa na cultura corporal do brasileiro em geral.

O texto “Os Africanos” compõe o livro Com Passo Sincopado – Em busca de uma linguagem brasileira de dança de Antonio Nóbrega. Conheça o projeto contemplado pelo Prêmio Funarte de Dança Klauss Vianna 2014: http://bit.ly/2hiAaco