By Antonio Nóbrega | 27 março 2019 | Sem Comentários
Depois do conteúdo que Antonio Nóbrega lançou nas redes, explicando brevemente a estrutura da forma poética conhecida por quadra, quadrinha ou trova e convidando os leitores a exercitar e nos enviar suas composições, recebemos muitos e-mails. Ao todo, foram mais de 70 quadras dos mais variados temas, enviadas de 16 cidades de todas as regiões do Brasil.
É sempre muito bacana fazer ações coletivas com temáticas da cultura brasileira. Já aconteceu uma roda de choro virtual a partir da música Gostosinho, do Jacob do Bandolim, um certame poético dentro da modalidade Galope à Beira Mar, e agora esse exercício coletivo de Quadras.
Vale à pena dedicarmos um pouco da nossa energia criadora a esse Brasil tão rico que temos!
Abaixo você poderá encontrar todas as contribuições que estavam dentro das regras formais passadas por Nóbrega no convite (os vídeos com as explicações também estão no final deste post).
O Curso Na Rima ministrado por Antonio Nóbrega já começou no Instituto Brincante e vai até junho. Fique de olho nas próximas turmas!
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Alexandra Hercilia Pereira Silva
Pois se a vida algo valesse
Não se “morria” feito cão
Na rua, na lama, no frio
Mas, hoje em dia, #valenao
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Matemática é “mia” vida
E poeta “mia” profissão
Bem melhor do que uma prova é
Uma quadra-demonstração
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Beth Cruz
Vem raízes de outrora
Vem unir o mundo inteiro
Fluí no eco dos tambores
O quilombo brasileiro
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Precisamos um do outro
Para o bem sempre fazer
Pois o mundo tá carente
Deixe o bem te envolver
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Pele preta, pele branca
Olhares de cor sem cor
Todo sangue é vermelho
Mas colorido é o amor
XXXXXXXXXXXXXX
Num bom livro que eu reli
Encontrei uma verdade
Cativeiro tão cruel
Psique da humanidade
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A plantinha que eu mais gosto
É o pé do alecrim
Eu colhi lá no quintal
Pra você e para mim
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Bordei seu lindo nome
Num tecido de algodão
Disseste-me ao ouvido
Borde em seu coração.
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Eduardo Augusto de Castro Serique
Minha amada está tão longe,
O destino quis assim.
Eu, aqui, choro por ela
E ela, lá longe, por mim.
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Elena Almeida
O carnaval do Recife
Sempre é muito bacana.
A alegria rola solta,
Ela é pernambucana!
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Gláucia Melo
Se você é bem esperto
Já percebe a loucura
Acabou a liberdade
Estamos na ditadura
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Graziela Barduco
Na saudade de outra vida
Vislumbrei amor eterno
Levantei-me destemida
Mas em ti vi meu inferno.
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Guto Maia
O pedreiro ergue um muro
No fundo do meu quintal;
Se cai e mata o vizinho,
Quem tem a culpa afinal?
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J.P. Caetano
Antes fosse mameluco
Encardido ou caiçara
Cariboca pele clara
Mas sou cidadão do mundo.
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Luiz Antonio Cintra
Sete sílabas, a quadra
Formada pra lhe enviar
Perguntei aonde deságua
O rio do meu sonhar?
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Marco Aurélio Romano
TROVEANDO
Acordado o meu brincante
Apoiado num só pé
Sonha com a ARTE errante
Acreditando com FÉ
Nobre Nobrega Antonio
Tourino ARIANO
Onde ARTE é notório
Faz-se circo num só pano
Quadrinhas, quadras, trovas
E como se faz então?
Segue a roda da ciranda
Vai abrindo o coração
Chora vai essa rabeca
Quero ouvir seu som manhoso
Mostra vai sua poesia
Brilho raro e precioso
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Maria Cândida Figueira
Canta, canta passarinho…
Mas não caia em armação.
Ao te darem uma fruta…
Depois dela, tua prisão!
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Pedi ontem à Jaci
Em estrela me tornasse,
Para ficar bem pertinho
De Naiá, num doce enlace…
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Nesta cantiga de roda
Vou de saia e vou bem lento…
Pra que não caiam as flores
Da saia e do pensamento!
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Avistei lá da janela
Brilhando muito num galho
Pensei ser um diamante
Era gota de orvalho
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Dentro de cada semente
Há prontinha uma história
Louca para nos contar
O que guarda na memória
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Vou acordar de manhã
Só pra ver nascer o sol
Pegarei um dos seus raios
Ao jogar o meu anzol
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Desse olhar canavial
Bem quietinho, bem parado,
Cacei jeito de ficar
Não do seu, mas destilado.
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Na luta da lagartixa
Com o inseto imprudente
Torço pra ela um bocado
Porque ela é transparente
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Quede carruagem de luxo?
Quede coloridas penas?
Foi só num piscar de olhos
E eram nuvens apenas
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Se do pó viemos nós
Só me explica, por favor,
Por que nos transfigurar
Em rejeitos, lama e horror?
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Matheus Violante
AROMA DAS MANHÃS
Nas mãos trazes uma xícara
Na cabeça, um novelo
Não sei qual cheiro mais gosto
Do café ou do cabelo!
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Mauro Vieira de Barros
DESDENHANDO A SINA
Pra que desdita chorada?
Pra que silencioso pranto
Prefiro a toada triste
Prefiro um amargo canto
Sou neste circo, um palhaço
E da saudade eu desdenho
Eu te abraço velha viola
E outra modinha eu desenho
Se um falso amor me despreza
Faço de conta que é um bem
Velhas paixões são inverno
E a primavera já vem
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Nerivan Barboza
Quando eu disse que fazia
Eu inda não tinha feito
Por isso é que tive tempo
Pra poder fazer direito
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Meu Brasil que tanto amo
Já sofreu tanta miséria
A mais recente é a vale
Cobrindo o povo de ter
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Um sabiá cantador
Fazendo festa na árvore
Me traz saudades da roça
Da infância e as traquinagem
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Já fui menino e hoje moço
Olho pra trás e reparo
Quantos sonhos esquecidos
No meio do imaginário
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Menina daquela casa
Da cor do sol de mei’ dia
De longe eu te imagino
Como de perto seria
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Paulo Vitor Albuquerque
Acontece em brumadinho
A tragédia anunciada
Prenda a cúpula da vale
Pois ela não vale nada
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Paulo Frederico Costa
JURA
Ela me fez uma jura,
folha que o vento levou,
e o tempo, que tudo cura,
só a mim que não curou.
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Ricardo Evangelista
Acordei de língua solta,
Há desordem no progresso.
Eu não troco minha roupa,
Quando rimo sou possesso
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Rodrigo Chianca Azevedo
O meu signo é Pernambuco,
Ascendente, Paraíba
Minha lua é em Gonzagão,
O meu sol é em Capiba
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O povo lá do sertão,
Do meu Nordeste em geral,
Sofre muito com descaso
Do governo Federal
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Me entristece saber,
Que a cultura popular,
Do meu Nordeste querido
Vem perdendo o seu lugar
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Fui no Carnaval de Olinda,
Quatro cantos da cidade,
Caí no passo do frevo
Hoje só levo a saudade
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Só queria que um dia,
Nessa imensa nação,
A prioridade fosse
Cultura e educação
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Como todo passarinho
Que nasceu para voar,
Bem distante do seu ninho
Você não vai mais voltar
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Guardo no meu coração,
A saudade que me mata
Não escondo, meu amor!
Que eu sinto a sua falta
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Do jeito que a coisa anda
Do jeito que o mundo afunda,
A mente vai virar corpo,
Cérebro vai virar bunda
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
O governo às vezes acha,
Que seu cidadão não come
Só assim para aceitar,
Que o pobre morra de fome
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Morena diga pra mim,
Se queres meu coração
Cuidado com que respondes
Posso morrer de paixão
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Se eu fosse passarinho,
Pra bem longe ia voar
Deixava logo essa terra
Atrais de um novo lar
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
E se eu fosse peixinho,
Sozinho eu ia pro mar
Procurar alguém que quisesse
Alguém para lhe amar
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Querida, dinheiro não tenho
Pra lhe comprar uma flor
Garanto não vai faltar
Poesia e muito amor
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Sergio Tück
Se escolas são pessoas
Quem segura a ventania?
De um povo consciente
Educado na cidadania.
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Roda-roda, rola e gira
Brinca, joga, pula e dança
Ouve história noite e dia
Deixa o tempo da criança.
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Vem de cima para baixo
Segue cego sem mistério
Sem partido, sem sentido
Educação sem ministério.
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Se nasci nesse Brasil
Mar e céu todinho azul
Quem me separou criança
Da América do sul?
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Stélio Torquato Lima
Uma gotinha do mar,
Afogada em desengano,
Certo dia, ao despertar,
Se descobriu oceano…
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Tânia Monnerat
A CARA DO BRASIL EM VERSOS
Uma tela vou pintar
Com a cara do Brasil
Mas que cor predominar
Se ele tem nuances mil?
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Professor é profissão
É importante pilar
Professor é a raiz
Que o que faz é plantar
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Tânia Grinberg
Brincando com as palavras
viajei por mil lugares,
habitei grandes castelos,
Voei livre pelos ares.
Conheci todos os nomes
das pessoas, os olhares.
Então vi, dentro de mim,
sonhos interestelares:
Um mergulho nas estrelas,
em minha nave Solaris,
aqueceu meu coração
com ecos familiares.
Pois de longe olhei a terra,
com seus rios azuis e mares,
e me vi vivendo nela
caminhando com meus pares.
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Vinícius Ferreira Martins
Lutar sempre é o caminho
Mais nobre do sonhador
É bom conhecer o espinho
Pra valorizar a flor.
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Tem dias que ela se ausenta
Há noites que ela me invade
É relação turbulenta
A de quem possui saudade.
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Confira o convite que foi feito por Nóbrega!
Aqui o artista dá dicas sobre o formato das quadrinhas
Nóbrega lê algumar participações