By Antonio Nóbrega | 24 abril 2022 | Sem Comentários
Antonio Nóbrega-Bráulio Tavares
Arranjo Edmilson Capelupi
O poeta é alquimista:
funde secreta mistura
de onde extrai o que procura
e que não alcança a vista.
Poeta é malabarista,
é prestidigitador:
traça as mãos ante o leitor,
trapaceia-lhe os sentidos,
ilude os olhos e ouvidos…
O poeta é um fingidor.
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente,
que chega a fingir que é dor.
A dor que deveras sente.
Cada linha que ele traça
abre mil bifurcações;
cada estrofe das canções
se funde noutra argamassa.
É perseguidor e caça
na selva espessa da mente.
Nos ilude e de repente
de caçador vira presa.
Tudo nele é de surpresa.
Finge tão completamente!
O poeta é um fingidor…
Cada verso seu declara
o que o próprio som não soa.
Moeda a girar, coroa,
e no mesmo instante cara.
E dessa matéria rara
ele extrai outro valor,
que transborda o próprio amor,
se transforma em seu vício,
tão intrincado e difícil
que chega a fingir que é dor.
O poeta é um fingidor…
Dizem que é no coração
que ele esconde seus segredos,
sua coragem, seus medos,
o seu sim, e o seu não.
Mas quem tocará com a mão
nessa lava tão ardente?
Com tanta ilusão fervente
lá no fundo do seu ser,
ninguém pode perceber
a dor que deveras sente.
O poeta é um fingidor…