By Antonio Nóbrega | 24 abril 2022 | Sem Comentários
Antonio Nóbrega – Wilson Freire
Criação percussiva – Léo Rodrigues
Tô embolando
na bola da embolada,
minha voz tá embalada
na balada do embolar
A poesia
é das letras maioral,
ela é santa, é infernal
na jornada do rimar.
Como um macaco
cada rima tem seu galho,
não é alho com bugalho,
cada som tem o seu par.
No português,
a raiz da poesia
e de toda cantoria
é uma estrofe milenar.
É miudinha
e é bem espevitada,
mas é muito respeitada
por quem gosta de rimar.
É conhecida
pelo nome de quadrinha,
tá no samba, na modinha
e em todo batucar.
Está em Chico,
em Drummond e João Cabral,
na poesia marginal,
no erudito e popular.
Ela é uma estrofe
formada de quatro versos,
que nunca estão dispersos,
alternados vão rimar.
E cada verso,
pra quadra ficar certinha,
sete sílabas alinha
se quiser pode contar…
Tô embolando…
Tem a sextilha,
uma estrofe de seis linhas,
sete sílabas justinhas
bem fáceis de soletrar.
Igual à quadra,
rimas também alternadas,
muito bem cadenciadas
pro poeta não errar.
Se acrescento
duas linhas à sextilha
eu aumento a família
e outra estrofe vou ganhar.
É o quadrão
ou então mourão voltado,
tudo bem metrificado
pra quem queira versejar.
Mais duas linhas
acrescento ao quadrão
e a estrofe agora, então,
vira décima, veja lá.
E com dez pés
muitas estrofes se tem,
mais modalidades vêm
para a arte do rimar.
Agalopado
é uma décima de dez sílabas,
que é irmã da hendecassílaba
nome chato de falar.
Por isso, então,
essa forma na poesia
se chama na cantoria,
de Galope beira mar.
Tô embolando…
Mas tem ainda
Gabinete e a Gemedeira
que é uma estrofe risadeira,
mas serve pra lamentar.
Tem o Rojão,
A Parcela e a Setilha,
a Ligeira e a Carretilha,
dessa agora eu vou falar.
Essa criatura
é uma estrofe bem sonora,
amiga de toda hora
da arte do meu rimar.
Uma lindeza,
é parente da quadrinha,
é também de quatro linhas
ligeirinhas de cantar.
É com essa estrofe
que eu estou embolando,
e a plateia embalando
para o tempo não passar.
Cadenciada,
é minha locomotiva
do juízo, é emotiva,
princesa do meu cantar.
A diferença
é o verso que começa:
é mais curto, mais depressa,
quatro sílabas estão lá.
E a sua rima,
que não é intercalada,
ela é, sim, emparelhada,
acompanhe o meu cantar.
Prestem atenção:
rimam os versos do meio,
o que muda é o balanceio
do brinquedo do rimar.
E é dessa amiga,
que sempre está me ajudando
que eu vou me desplugando
pra seguir pra outro embalar.
Tô embolando…