By Antonio Nóbrega | 22 setembro 2016 | Sem Comentários
Compartilho com vocês o texto que recito no show “Semba”. Criado por mim e pelo amigo e poeta Wilson Freire — valeu a paciência! — relatamos um pouco da história do samba nas estrofes abaixo.
Vim com os Negros.
Sou aquele Semba antigo,
no quadril e no umbigo
trouxe eu meu festejar.
Corpo com corpo
chacoalhando na umbigada,
na senzala ou na latada
eu aqui vim pra ficar.
Em toda festa
ritual e brincadeira
me esbanjavam a noite inteira
sem ter hora pra parar.
E com toadas,
palmas e tambor de mão,
bate-pé, poeira e chão
samba foram me chamar.
E em cada canto
onde eu me enraizava,
alguém me rebatizava
com algum nome do lugar:
Cateretê,
Caxambu e Bambelô,
Bate-coxa e Milindô,
e o Coco de embolar.
Mas quando um dia
aboliram a escravatura
e o café perdeu a brancura
que o dinheiro podia dar,
parti com os negros,
mamelucos e mestiços,
em bandos e em rebuliços,
pra no Rio vir morar.
E foi por lá,
nos saraus da Tia Ciata,
onde encontrei toda nata
do choro e do batucar:
o Pixinguinha,
o Sinhô, João da Baiana,
muito mais gente bacana,
todos iam para lá.
E pelas noites
de batuques sincopados,
saracoteios e gingados,
deram de me exaltar.
Me tornei gênero
de música e de dança
e foi dessa aliança
que virei ímpar, sem par.
O meu batismo
como Samba, o meu nome,
foi o “Pelo Telefone”
que o Donga foi registrar.
Mil novecentos
somando mais dezesseis
era o ano e a vocês
ainda eu posso vou contar.
Eu me firmei,
me espalhei pela Mangueira,
Catumbi e Madureira,
em Nilópolis fui pousar.
Mestre Cartola,
Candeia, Carlos Cachaça,
Noel Rosa, o boa praça,
viviam a me semear.
Aí virei
patrimônio coletivo.
E como sou hiperativo
vivo a me transfigurar.
Sou samba-choro
sou pagode e gafieira,
samba-enredo e uma fileira
de mais nomes vim ganhar.
E mais ainda:
sou a festa e a dor,
a tragédia e o amor,
todos vivem a me cantar.
Chico Buarque
e Paulinho da Viola,
João Bosco e a vida rola,
sou o samba e sou sem par.
Eu hoje sou
quase o “Juízo final”,
sou o “País Tropical”,
que não sei se “Vai passar”.
O “trem das onze”,
o “Mestre-Sala dos Mares”,
“Sonho meu”, outros olhares
eu ainda vou lançar.
Eu denuncio
a mentira, a injustiça,
a verdade me atiça,
nada ruim vai me deter.
Sou vigilante
da paz, da democracia,
dia e noite, noite e dia.
Eu não tenho o que temer.
Quem não viu o espetáculo Semba, que apresentei no Sesc Pinheiros de 27/08 a 05/09 — ou quem viu e gostou, bem que poderia começar um movimento direto e já: “Volta Semba”…!