Antonio Nóbrega apresenta novo espetáculo de dança 

By Antonio Nóbrega | 4 abril 2015 | Sem Comentários

Em Pai, artista propõe uma união lúdica do imaginário corporal brasileiro com a dança ocidental

15844325555_4917c66989_oA Cia Antonio Nóbrega de Dança estreia PAI no dia 8 de maio no Festival  O Boticário na Dança no Auditório Ibirapuera – Oscar Niemeyer, em São Paulo. O novo espetáculo, além de dirigido por Antonio Nobrega, contará também com a sua atuação ao lado dos  sete bailarinos que integram a companhia.

Em seu novo trabalho, Nóbrega não só aprofunda a sua pesquisa em torno de uma dança brasileira  contemporânea resultante do diálogo criativo entre o imaginário corporal popular brasileiro e o  universo de procedimentos e princípios técnicos desenvolvidos pela dança ocidental, como traz à tona dois temas que se mesclam no decorrer do espetáculo: a presença do lúdico e a ausência do arquétipo paterno na arte e cultura brasileiras.

A música do espetáculo é uma criação conjunta de Nóbrega com os jovens compositores e músicos Leo Gorosito e Rafael Alberto. A coreografia é uma criação  coletiva produzida por ele,  sua assistente Letícia Doretto e os demais bailarinos da companhia — Alisson Lima, Antonio Meira, Flaira Ferro, Letícia Doretto, Luciano Fagundes, Maria Eugênia (Marina Abib) e Mika Rodrigues. A Iluminação é de Marisa Bentivegna e os figurinos de Eveline Borges.

Sobre a Cia Antonio Nóbrega de Dança

Nasceu extraoficialmente com o espetáculo Passo, em 2007. Sua segunda montagem, Naturalmente, foi premiada pela APCA como Melhor Pesquisa em Dança de 2009. Foi com Humus que o artista criou oficialmente a companhia em 2011 e com ele que ganhou, em 2013, o Prêmio Governador do Estado de São Paulo para a Cultura. A principal  característica do seu trabalho é a busca de uma dança brasileira contemporânea fruto do diálogo entre a tradição ocidental de dança e popular brasileira.

Sobre Antonio Nóbrega

Nasceu em Recife. Começa a estudar violino aos 8 anos. Em 1971, Ariano Suassuna  convida-o para integrar o Quinteto Armorial. A partir daí, passa a estudar o universo da cultura popular e a criar espetáculos de teatro, dança e música nela referenciados. Entre eles: Brincante, Segundas Histórias, O Marco do Meio Dia, Figural, Na Pancada do Ganzá, Madeira Que Cupim Não Rói, Pernambuco Falando para o Mundo, Lunário Perpétuo, Nove de Frevereiro, Naturalmente, Húmus, entre outros. Recebeu inúmeros prêmios, entre eles. o Shell de Teatro, o Tim de Música, APCA, Mambembe, Conrado Wessel, Governador do Estado de São Paulo.

Com seus espetáculos, o artista tem viajado para inúmeros países. Recebeu duas vezes a Comenda do Mérito Cultural. Tem doze CDs gravados e três DVDs. Em novembro de 1992, fundou com Rosane Almeida – atriz, bailarina e sua mulher  – o Instituto Brincante, em São Paulo. Em 2014, o cineasta Walter Carvalho realizou o longa-metragem Brincante, dedicado à sua trajetória artística.

Sobre O Boticário na Dança

O Festival O Boticário na Dança chega a sua terceira edição com apresentações nas cidades de São Paulo (SP) e Rio de Janeiro (RJ) entre os dias 6 e 10 de maio. Parte da plataforma de patrocínios O Boticário na Dança, o evento reúne alguns dos mais respeitados grupos brasileiros e internacionais, www.oboticarionadanca.com.br.

Produzido pela Dueto Produções, o Festival O Boticário na Dança tem ingressos a preços populares, que variam de R$ 20 a R$60, dependendo da praça e dos setores do teatro.

PAI

FICHA TÉCNICA

Concepção e direção: Antonio Nóbrega

Assistência de Direção: Letícia Doretto

Coreografia: Antônio Nóbrega, Letícia Doretto e demais bailarinos-criadores da companhia

Música: Antonio Nobrega, Leo Gorosito e Rafael Alberto

Figurinos: Eveline Borges

Iluminação: Marisa Bentivegna

Fotos: Sílvia Machado

Preparação corporal: César Deleon

Direção de produção: Thereza Freitas

Palco: Wanderley D. Lasco

Coordenação Artística e Produção: Brincante Produções

Bailarinos:

Alisson Lima

Antonio Meira

Flaira Ferro

Letícia Doretto

Luciano Fagundes

Maria Eugênia Almeida (Marina Abib)

Mika Rodrigues

Serviço

Companhia Antonio Nobrega de Dança em PAI

Auditório Ibirapuera — Oscar Niemeyer

Sexta-feira, 8 de maio, às 21h

Duração: 60 min (aproximadamente)

ingressos: R$ 20 e R$ 10 (meia-entrada)

[menores de 16 anos acompanhados pelos pais]

Ingressos à venda:

No site

Na bilheteria:

Quinta das 11h às 20h

Sexta e sábado das 11h às 22h

Domingo das 11h às 20h

Telefone: +55 (11) 3629-1075

info@auditorioibirapuera.com.br

 

 

Mais informações para a imprensa:

PRISCILA COTTA

priscila.cotta@agenciafervo.com.br

  1. +55 11 97028.2187

NARA LACERDA

nara.lacerda@agenciafervo.com.br

  1. +55 11 9 9643 3432

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Antonio Nóbrega apresenta novo espetáculo de dança

By Antonio Nóbrega | 4 abril 2015 | Sem Comentários

 

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A Cia Antonio Nóbrega de Dança estreia PAI no dia 8 de maio no Festival  O Boticário na Dança no Auditório Ibirapuera – Oscar Niemeyer, em São Paulo. O novo espetáculo, além de dirigido por Antonio Nobrega, contará também com a sua atuação ao lado dos  sete bailarinos que integram a companhia.

Em seu novo trabalho, Nóbrega não só aprofunda a sua pesquisa em torno de uma dança brasileira  contemporânea resultante do diálogo criativo entre o imaginário corporal popular brasileiro e o  universo de procedimentos e princípios técnicos desenvolvidos pela dança ocidental, como traz à tona dois temas que se mesclam no decorrer do espetáculo: a presença do lúdico e a ausência do arquétipo paterno na arte e cultura brasileiras.

A música do espetáculo é uma criação conjunta de Nóbrega com os jovens compositores e músicos Leo Gorosito e Rafael Alberto. A coreografia é uma criação  coletiva produzida por ele,  sua assistente Letícia Doretto e os demais bailarinos da companhia — Alisson Lima, Antonio Meira, Flaira Ferro, Letícia Doretto, Luciano Fagundes, Maria Eugênia (Marina Abib) e Mika Rodrigues. A Iluminação é de Marisa Bentivegna e os figurinos de Eveline Borges.

Serviço

Companhia Antonio Nobrega de Dança em PAI

Auditório Ibirapuera — Oscar Niemeyer

Sexta-feira, 8 de maio, às 21h

Duração: 60 min (aproximadamente)

ingressos: R$ 20 e R$ 10 (meia-entrada)

[menores de 16 anos acompanhados pelos pais]

Ingressos à venda:

No site

Na bilheteria:

Quinta das 11h às 20h

Sexta e sábado das 11h às 22h

Domingo das 11h às 20h

Telefone: +55 (11) 3629-1075

info@auditorioibirapuera.com.br





Show de bolso de Antonio Nóbrega na UFSCar

By Antonio Nóbrega | 5 novembro 2014 | Sem Comentários

FLYER-WEB-ANTONIO-NOBREGA

Acompanhado por dois músicos, Antonio Nóbrega canta, toca, dança e conversa sobre as referências da cultura popular em sua criação artística. O espetáculo acontece dia 06/11, às 17h, no Teatro Florestan Fernandes, localizado na área norte do Campus São Carlos da UFSCar. O encerramento fica por conta do grupo Girafulô, com apresentação de danças populares. A entrada é gratuita e a retirada antecipada de convites é das 9 às 18 horas, na Coordenadoria de Cultura (CCult) da Pró-Reitoria de Extensão (ProEx), localizada na área sul do Campus, ou na Rádio UFSCar, na área norte.

O show de Antonio Nóbrega em São Carlos faz parte do projeto Música na Cidade, da CCult/ProEx da UFSCar, cuja proposta é realizar apresentações musicais, oficinas e palestras com nomes importantes e referenciais do cenário musical brasileiro. Criado em 1989, o projeto estabelece o elo da Universidade com a cidade de São Carlos, reafirmando o papel da UFSCar em promover e dinamizar as ações na esfera cultural, criando um espaço de formação e fruição musical, que são fundamentais dentro da atividade artístico-cultural. O Música na Cidade Apresenta uma programação diversificada, priorizando trabalhos musicais que pesquisam ou se apropriam da música brasileira tradicional e da música folclórica, ou a caracterizada por hibridismos no tempo, nos estilos, e de influências de outras regiões, que representa tendência nas propostas mais recentes.

Mais informações podem ser obtidas pelo site www.ufscar.br, pelo telefone 3351-8702 ou pelo e-mail cultural.proexufscar@gmail.com.

 

SERVIÇO

Show de bolso de Antonio Nóbrega na UFSCar
06/11, às 17h
Classificação: Livre
Local: Teatro Universitário Florestan Fernandes – São Carlos – SP
Grátis – Retirada antecipada de convites na Coordenadoria de Cultura PROEx e na Rádio USSCar, das 9h às 18h

 





Inauguração do Paço do Frevo

By Antonio Nóbrega | 17 fevereiro 2014 | Sem Comentários

Amigos queridos, compartilho com vocês o texto que escrevi para a inauguração, em Recife, do Paço do Frevo.

Paço do Frevo – Apresentação from Luis Marcelo Mendes on Vimeo.

“Fico agradecido ao senhor prefeito Geraldo Júlio pelo convite que me fez para proferir algumas palavras nesse evento de inauguração do Paço do Frevo. Com esse convite renovo o meu agradecimento a ele e à secretária de cultura municipal, Leda Alves, pela distinção de ser, juntamente com Frevo, o homenageado do Carnaval de 2014. Me permitam dizer que foi uma honraria que considerei tanto individual quanto coletivamente, porque ao recebê-la é como se estivessem comigo, bem aqui meu lado, aquela imensa legião de compositores, passistas, músicos e cantores que tanto admiro e que desde o alvorecer do século XX até os dias de hoje, vieram decantando e dando forma ao que entendemos e chamamos de frevo.
Uma outra razão para ainda agradecer-lhe o convite é ter a oportunidade de, publicamente e segundo o meu ponto de vista, reforçar o significado e a responsabilidade dessa inauguração. Digo sempre que o frevo transcende os limites de uma simples manifestação cultural. Prefiro denominá-lo de uma instituição cultural. Não preciso repetir aqui as formas ou gêneros em que essa instituição se dinamiza. Mas aquilo que talvez necessite ser lembrado é que a teia, a rede, a urdidura e cruzamento do material simbólico que lhe deu origem e fundamento – ritmos, danças, cantos que se perdem pelas Idades do mundo – se confunde com a própria história do Brasil. Uma história que se desenvolve dentro do Brasil periférico, pobre, marginal, mal compreendido e culturalmente folclorizado. Ouvimos muitas vezes dizer que o Brasil é uma soma de vários Brasis. Me permitam ainda, discordar dessa opinião pois penso que o que chamamos de Brasil não é mais do que a reunião de apenas dois e únicos Brasis: o do primeiro andar e o do andar de baixo ou do sótão! Há historicamente um Brasil socioeconômico e cultural subalternizado e foi esse Brasil que, prevalentemente, nos deu samba, baião, choro e o frevo, para só me referir à algumas manifestações da cultura imaterial. Esses gêneros ou manifestações culturais foram se constituindo, repito, no subsolo, a despeito de toda força contrária, fundamentalmente por negros, índios, mulatos e ibéricos não pertencentes à classe hegemônica e dominante. Para que essas preciosas manifestações ganhassem corpo e alma uma monumental inteligência e energia criadora intuitiva e inconscientemente foi mobilizada. Está na hora de descobrirmos que força é essa. De onde ela provém. Entendermos o seu poder transformador e revolucionário. Que força é essa que tão voluptuosamente se despeja na hora de bater um tambor, de cantar, de tocar, de dançar e brincar? Essa Casa – esse Paço do frevo – tem de compreender de onde ela vem, de saber canalizá-la, essa Casa tem de ser a usina e represa dessa grande hidroelétrica frevo. Ela tem de ser o dinâmico e transcendente reflexo dessa força. Penso que ao compreendê-la teremos em mãos um rico e fecundo caminho para vencermos vários de nossos desafios, e que não dizem respeito unicamente à arte e cultura.
Senhores: podemos transformar esse espaço, esse Paço num local exemplar de Brasil. Um lugar não só de busca, pesquisa, prática e experimentação artística, mas, sobretudo um território de vivência de novas práticas de relações, procedimentos e integração humanas. Além do frevo-de-rua, da dança do frevo, do frevo-canção e do frevo-de-bloco o oceano frevo tem um mar de rios para colaborar no desenvolvimento de nossa humana imaterial e material educação. Educação eis uma palavra chave. Se tivermos a suficiente compreensão do significado e alcance sociocultural dessa grande Instituição Frevo poderemos transmudar sua imaterialidade em matéria viva e operante dignificando a sua alegre, bela e explosiva humanidade.” Sugiro que acessem o site do Paço do Frevo para conhecer mais sobre o museu.





Nascimento do Brincante IV – Mestre Antônio Pereira

By Antonio Nóbrega | 18 novembro 2013 | Sem Comentários

Antes, todavia, de chegar em Verscio, como prometi contar, ainda terei de dar um cambalhota para trás nesse relato. Relendo o texto anterior para pegar a “deixa” e seguir para esse, vi que poderia falar um pouco sobre a figura do “velho e famoso brincante popular Capitão Antônio Pereira” a que me referi naquele texto como o dono e diretor do Boi Misterioso de Afogados. Esse “capitão”, de brincante patente, quando o conheci já era octogenário mas ainda “brincava” no Boi. Botava figuras (expressão que em língua de bumba-meu-boi significa “representava personagens e figuras diversas”) e, montado no Cavalo Marinho, comandava o “brinquedo”. Posso dizer que ele foi o meu grande mestre iniciador nas artes do teatro popular brasileiro. Com ele aprendi os toques de percussão da “brincadeira”; as loas e chamadas-de-entrada e saída das figuras, bem como as suas falas e jogo gestual; aprendi a confeccionar as tais figuras – boi, cavalo, morto-carregando-o vivo, ema, pigmeu, babau, etc. – a partir de cipós de jacuipiranga recolhidos nos mangues e que serviam de armação para panos de estopa e lonas velhas que prendíamos nos cipós e as pintávamos com tinta óleo como que esculpindo as figuras. Para essas tarefas cedo pela manhã chegava em sua casa e só pela boca da noite é que ia embora. Morava numa casa pobre – metade de barro, metade de alvenaria –, embora muito bem cuidada e bem arrumadinha por sua mulher d. Maria, “crente” fervorosa. A viela estreita em que a casa ficava, fosse na época das chuvas, me proibia de visitá-lo. O local, denominado de Mustardinha, fazia parte do bairro de Afogados, uma região que, como o nome sugere, era recortada pela presença de manguezais. Sempre que comia em sua casa ele me brindava com uma frase que ainda hoje repito quando os amigos vêm comer na minha: “aqui tem de tudo, só não tem o que está faltando…”
Se o capitão Pereira me trouxe o primeiro entendimento do que era a “brincadeira” do Boi, foi a figura do Mateus Guariba que me despertou a vontade de dançar e atuar comicamente. Foi através dela que me conectei com o universo da dança. Até então nunca tinha me aproximado desse mundo. Mas aquele arsenal de passos, aqueles trejeitos mugangueiros e divertidos do Mateus me seduziam enormemente. Resolvi aprendê-los e até hoje eles fazem parte da minha memória e imaginário corporal.
Mas voltando ao Capitão Pereira, fiquei-lhe tão agradecido pelos ensinamentos que me propiciava que um dia idealizei uma solenidade pública para homenageá-lo. Criei para ele o título de Mestre Supremo e Perpétuo da Brincadeira do Boi e numa tarde de sábado na Casa da Cultura de Recife, com toda pompa e circunstância, eu e os meus amigos integrantes do Boi Castanho Reino do Meio Dia lhe outorgamos o título. Essa titulação foi feita através da entrega de uma comenda, de um pergaminho e de um discurso-texto por mim proferido cujo conteúdo estará em breve nesse blog. Certamente esse foi o único artista brasileiro a receber tal titulação…
Por essa ocasião, Mestre Pereira tinha 88 anos. Ele morreria quatro anos depois, no dia dois de maio de 1981. Morria aos 92 anos . Nesse dia eu completava 29.





Nascimento do Brincante III – Bois e o Mateus

By Antonio Nóbrega | 30 outubro 2013 | Sem Comentários

Como eu dizia, os cantos, as danças, a maneira de representar dos artistas populares me pegavam de tal jeito que logo vi que tinha de desaguar de alguma maneira aquilo que aprendia. Foi por essa razão que criei sucessivamente dois Bois: o da Boa Hora e em seguida o Castanho Reino do Meio Dia. Embora esses grupos de Bumba-meu-boi que idealizei fossem imitações do Boi Misterioso de Afogados do velho e famoso brincante popular Antonio Pereira, foi através deles que eu comecei a exercitar-me na função de ator e criador de espetáculos.
Juntei moças e rapazes amigos e da minha idade e começamos a nos reunir para aprender as loas, os toques instrumentais e o jogo teatral das diversas figuras. Tenho para mim que gostavam da ideia de tomar parte nesses “brinquedos” mais pelo espírito da festa e encontro social do que propriamente pelo exercício teatral. Eu é que, secretamente, encarava aqueles Bois como coisa muito séria…
Neles, além de organizá-los e dirigi-los ainda atuava na figura do Mateus. Para quem não sabe, Mateus é o nome dado a um misto de palhaço e bufão presente na maioria dos espetáculos populares. É uma figura de uma comicidade sobretudo corporal e gestual, contadora de facécias e tiradora de chistes. Pois bem, me identifiquei danadamente com ela. É por essa razão que a representava nos dois Bois que criei e nos espetáculos teatrais que posteriormente realizei – Figural, Brincante e Segundas Histórias – ela foi recriada com o nome de Tonheta. Para essa recriação, além de, naturalmente, me aprofundar no cômico popular, procurando assimilar e mastigar o seu amplo universo, me interessei também em estudar e aprender os procedimentos dos cômicos do cinema mudo como Chaplin e Buster Keaton, dos chanchadeiros brasileiros Oscarito, Grande Otelo e Zé Trindade, dos cômicos das comédias cinematográficas Cantinflas e Totó. Além do que, interessei-me também pelo universo do Arlequim da Comedia dell’arte e da Palhaçaria em geral estudando a vida e a arte de palhaços como Grock, os Irmão Fratellini e Dimitri, um “clown” que tive a felicidade de tomar conhecimento numa aula de mímica dada por Denise Stoklos. Foi ela que mostrou-me o seu livro Album Dimitri. O livro informava também que ele dirigia com sua mulher, Gunda, um teatro-escola em Verscio, na parte italiana da Suiça. O resultado desse conhecimento é que encasquetei em conhecê-lo e fazer um curso na sua escola. Para contar como isso aconteceu vou ter que novamente adiar o fim desse relato brincântico.
No próximo texto contarei as peripécias que tivemos de fazer para, numa noite de 1990, bater eu e Rosane com os costados em Verscio.





Nascimento do Brincante II- O calhambeque-bi-bi-te

By Antonio Nóbrega | 31 dezembro 2012 | Sem Comentários

Se o espetáculo e o teatro Brincante nasceram ali no ano de 1992, o espírito brincante eu já carregava comigo desde há muito tempo.
Quando ainda era menino tinha com minhas irmãs um conjunto musical em que cantava, tocava e até vez por outra inventava de representar. Com esse grupo eu interpretava músicas de Roberto Carlos, dos Beatles, música francesa, espanhola, música clássica e também músicas minhas. Só não era realmente a mistureba do samba do crioulo doido porque samba mesmo era o que menos executávamos. Ou seja, a música que cantávamos e tocávamos era basicamente aquela que ouvíamos nas rádios, na nascente televisão e a que praticávamos na Escola de Belas Artes de Recife onde estudava violino. Ainda para reforçar a minha simpatia pelo espírito brincante, devo informar a todos que por três vezes entrei nos concursos de canto e declamação do colégio Marista, onde estudava. Tinha, acho, de doze pra treze anos. Pois bem, durante os consecutivos três anos eu tracei todos os primeiros lugares…! É mole? Na categoria canto, com as músicas Calhambeque e Arrastão e na categoria declamação com o poema de Vinícius de Morais O Operário em Construção.
Não sei se vocês podem me imaginar cantando, num ano, o Calhambeque-bi-bi-te (versão Roberto Carlos) de calça de helanca azul boca de sino, colada na bunda, sapato de fivelão prateado e, noutro ano, arremessando os braços pra lá e pra cá, pra cima e pra baixo, no bom estilo Elis Regina, cantando a canção Arrastão do Edu Lobo. Pois foi o que aconteceu.
Consequentemente, portanto, quando em 1970 , a partir do convite de Ariano Suassuna para integrar o Quinteto Armorial, eu comecei a me interessar pelo universo dos brincantes populares, o meu espírito já estava preparado para fazer aquele grande mergulho brincante-cultural que me conduziu até aqui.
Posso dizer que tomar conhecimento dos brincantes ou folgazões, dançadores e músicos populares foi, naquela ocasião, como se eu tivesse sendo acometido de uma espécie de profundológico abalo sísmico cultural.
Imaginem novamente vocês que até aquele momento eu nunca tinha ouvido falar de bumba-meu-boi, maracatu, rabeca, cantadores, coco, embolada, mateus, frevo, etc. Aquele era para mim realmente um “admirável mundo novo” que se descortinava. Era o próprio realismo mágico em pessoa se revelando para mim.
Aliás, por essa época eu andava lendo o livro Sonhos, Memórias e Reflexões de Jung. Uma obra que guarda um pouco da mesma atmosfera onírica, lunar e cheia de maravilhas que eu descobria naquele universo que começava a vivenciar. Junguiando esse texto, acho que esse período corresponderia na minha vida a uma espécie de “iniciação aos mistérios do povo brasileiro”. Uso, aliás, a palavra mistério glosando um pouco aquele sentido dado a ela pelos antigos gregos quando iniciavam-se nos mistérios eleusinos. Através desses mistérios celebravam o regresso de Perséfone, representação mítica do retorno das plantas e da vida à terra no ciclo da primavera. De certa forma era isso o que eu sentia mesmo: uma espécie de retorno ou reencontro comigo mesmo, com as forças telúricas e vitais da minha natureza primaveril, através do rico e caudaloso imaginário popular. Durante vários e vários anos esse imaginário cultural por meio de cantos, danças, ritmos, entremeios teatrais, etc., me tomaria até à medula.
Bem, acho que vou parando por aqui hoje. Mas como não acabei ainda o danado do assunto Nascimento do Brincante, voltarei a ele ainda…
Salve.