Depois do conteúdo que Antonio Nóbrega lançou nas redes, explicando brevemente a estrutura da forma poética conhecida por quadra, quadrinha ou trova e convidando os leitores a exercitar e nos enviar suas composições, recebemos muitos e-mails. Ao todo, foram mais de 70 quadras dos mais variados temas, enviadas de 16 cidades de todas as regiões do Brasil.
É sempre muito bacana fazer ações coletivas com temáticas da cultura brasileira. Já aconteceu uma roda de choro virtual a partir da música Gostosinho, do Jacob do Bandolim, um certame poético dentro da modalidade Galope à Beira Mar, e agora esse exercício coletivo de Quadras.
Vale à pena dedicarmos um pouco da nossa energia criadora a esse Brasil tão rico que temos!
Abaixo você poderá encontrar todas as contribuições que estavam dentro das regras formais passadas por Nóbrega no convite (os vídeos com as explicações também estão no final deste post).
O Curso Na Rima ministrado por Antonio Nóbrega já começou no Instituto Brincante e vai até junho. Fique de olho nas próximas turmas!
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Alexandra Hercilia Pereira Silva
Pois se a vida algo valesse
Não se “morria” feito cão
Na rua, na lama, no frio
Mas, hoje em dia, #valenao
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Matemática é “mia” vida
E poeta “mia” profissão
Bem melhor do que uma prova é
Uma quadra-demonstração
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Beth Cruz
Vem raízes de outrora
Vem unir o mundo inteiro
Fluí no eco dos tambores
O quilombo brasileiro
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Precisamos um do outro
Para o bem sempre fazer
Pois o mundo tá carente
Deixe o bem te envolver
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Pele preta, pele branca
Olhares de cor sem cor
Todo sangue é vermelho
Mas colorido é o amor
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Num bom livro que eu reli
Encontrei uma verdade
Cativeiro tão cruel
Psique da humanidade
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A plantinha que eu mais gosto
É o pé do alecrim
Eu colhi lá no quintal
Pra você e para mim
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Bordei seu lindo nome
Num tecido de algodão
Disseste-me ao ouvido
Borde em seu coração.
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Eduardo Augusto de Castro Serique
Minha amada está tão longe,
O destino quis assim.
Eu, aqui, choro por ela
E ela, lá longe, por mim.
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Elena Almeida
O carnaval do Recife
Sempre é muito bacana.
A alegria rola solta,
Ela é pernambucana!
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Gláucia Melo
Se você é bem esperto
Já percebe a loucura
Acabou a liberdade
Estamos na ditadura
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Graziela Barduco
Na saudade de outra vida
Vislumbrei amor eterno
Levantei-me destemida
Mas em ti vi meu inferno.
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Guto Maia
O pedreiro ergue um muro
No fundo do meu quintal;
Se cai e mata o vizinho,
Quem tem a culpa afinal?
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J.P. Caetano
Antes fosse mameluco
Encardido ou caiçara
Cariboca pele clara
Mas sou cidadão do mundo.
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Luiz Antonio Cintra
Sete sílabas, a quadra
Formada pra lhe enviar
Perguntei aonde deságua
O rio do meu sonhar?
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Marco Aurélio Romano
TROVEANDO
Acordado o meu brincante
Apoiado num só pé
Sonha com a ARTE errante
Acreditando com FÉ
Nobre Nobrega Antonio
Tourino ARIANO
Onde ARTE é notório
Faz-se circo num só pano
Quadrinhas, quadras, trovas
E como se faz então?
Segue a roda da ciranda
Vai abrindo o coração
Chora vai essa rabeca
Quero ouvir seu som manhoso
Mostra vai sua poesia
Brilho raro e precioso
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Maria Cândida Figueira
Canta, canta passarinho…
Mas não caia em armação.
Ao te darem uma fruta…
Depois dela, tua prisão!
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Pedi ontem à Jaci
Em estrela me tornasse,
Para ficar bem pertinho
De Naiá, num doce enlace…
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Nesta cantiga de roda
Vou de saia e vou bem lento…
Pra que não caiam as flores
Da saia e do pensamento!
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Avistei lá da janela
Brilhando muito num galho
Pensei ser um diamante
Era gota de orvalho
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Dentro de cada semente
Há prontinha uma história
Louca para nos contar
O que guarda na memória
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Vou acordar de manhã
Só pra ver nascer o sol
Pegarei um dos seus raios
Ao jogar o meu anzol
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Desse olhar canavial
Bem quietinho, bem parado,
Cacei jeito de ficar
Não do seu, mas destilado.
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Na luta da lagartixa
Com o inseto imprudente
Torço pra ela um bocado
Porque ela é transparente
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Quede carruagem de luxo?
Quede coloridas penas?
Foi só num piscar de olhos
E eram nuvens apenas
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Se do pó viemos nós
Só me explica, por favor,
Por que nos transfigurar
Em rejeitos, lama e horror?
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Matheus Violante
AROMA DAS MANHÃS
Nas mãos trazes uma xícara
Na cabeça, um novelo
Não sei qual cheiro mais gosto
Do café ou do cabelo!
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Mauro Vieira de Barros
DESDENHANDO A SINA
Pra que desdita chorada?
Pra que silencioso pranto
Prefiro a toada triste
Prefiro um amargo canto
Sou neste circo, um palhaço
E da saudade eu desdenho
Eu te abraço velha viola
E outra modinha eu desenho
Se um falso amor me despreza
Faço de conta que é um bem
Velhas paixões são inverno
E a primavera já vem
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Nerivan Barboza
Quando eu disse que fazia
Eu inda não tinha feito
Por isso é que tive tempo
Pra poder fazer direito
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Meu Brasil que tanto amo
Já sofreu tanta miséria
A mais recente é a vale
Cobrindo o povo de ter
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Um sabiá cantador
Fazendo festa na árvore
Me traz saudades da roça
Da infância e as traquinagem
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Já fui menino e hoje moço
Olho pra trás e reparo
Quantos sonhos esquecidos
No meio do imaginário
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Menina daquela casa
Da cor do sol de mei’ dia
De longe eu te imagino
Como de perto seria
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Paulo Vitor Albuquerque
Acontece em brumadinho
A tragédia anunciada
Prenda a cúpula da vale
Pois ela não vale nada
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Paulo Frederico Costa
JURA
Ela me fez uma jura,
folha que o vento levou,
e o tempo, que tudo cura,
só a mim que não curou.
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Ricardo Evangelista
Acordei de língua solta,
Há desordem no progresso.
Eu não troco minha roupa,
Quando rimo sou possesso
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Rodrigo Chianca Azevedo
O meu signo é Pernambuco,
Ascendente, Paraíba
Minha lua é em Gonzagão,
O meu sol é em Capiba
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O povo lá do sertão,
Do meu Nordeste em geral,
Sofre muito com descaso
Do governo Federal
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Me entristece saber,
Que a cultura popular,
Do meu Nordeste querido
Vem perdendo o seu lugar
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Fui no Carnaval de Olinda,
Quatro cantos da cidade,
Caí no passo do frevo
Hoje só levo a saudade
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Só queria que um dia,
Nessa imensa nação,
A prioridade fosse
Cultura e educação
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Como todo passarinho
Que nasceu para voar,
Bem distante do seu ninho
Você não vai mais voltar
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Guardo no meu coração,
A saudade que me mata
Não escondo, meu amor!
Que eu sinto a sua falta
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Do jeito que a coisa anda
Do jeito que o mundo afunda,
A mente vai virar corpo,
Cérebro vai virar bunda
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
O governo às vezes acha,
Que seu cidadão não come
Só assim para aceitar,
Que o pobre morra de fome
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Morena diga pra mim,
Se queres meu coração
Cuidado com que respondes
Posso morrer de paixão
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Se eu fosse passarinho,
Pra bem longe ia voar
Deixava logo essa terra
Atrais de um novo lar
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
E se eu fosse peixinho,
Sozinho eu ia pro mar
Procurar alguém que quisesse
Alguém para lhe amar
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Querida, dinheiro não tenho
Pra lhe comprar uma flor
Garanto não vai faltar
Poesia e muito amor
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Sergio Tück
Se escolas são pessoas
Quem segura a ventania?
De um povo consciente
Educado na cidadania.
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Roda-roda, rola e gira
Brinca, joga, pula e dança
Ouve história noite e dia
Deixa o tempo da criança.
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Vem de cima para baixo
Segue cego sem mistério
Sem partido, sem sentido
Educação sem ministério.
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Se nasci nesse Brasil
Mar e céu todinho azul
Quem me separou criança
Da América do sul?
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Stélio Torquato Lima
Uma gotinha do mar,
Afogada em desengano,
Certo dia, ao despertar,
Se descobriu oceano…
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Tânia Monnerat
A CARA DO BRASIL EM VERSOS
Uma tela vou pintar
Com a cara do Brasil
Mas que cor predominar
Se ele tem nuances mil?
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Professor é profissão
É importante pilar
Professor é a raiz
Que o que faz é plantar
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Tânia Grinberg
Brincando com as palavras
viajei por mil lugares,
habitei grandes castelos,
Voei livre pelos ares.
Conheci todos os nomes
das pessoas, os olhares.
Então vi, dentro de mim,
sonhos interestelares:
Um mergulho nas estrelas,
em minha nave Solaris,
aqueceu meu coração
com ecos familiares.
Pois de longe olhei a terra,
com seus rios azuis e mares,
e me vi vivendo nela
caminhando com meus pares.
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Vinícius Ferreira Martins
Lutar sempre é o caminho
Mais nobre do sonhador
É bom conhecer o espinho
Pra valorizar a flor.
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Tem dias que ela se ausenta
Há noites que ela me invade
É relação turbulenta
A de quem possui saudade.
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Confira o convite que foi feito por Nóbrega!
Aqui o artista dá dicas sobre o formato das quadrinhas
Nóbrega lê algumar participações
Leia a explicação abaixo e envie seus versos até dia 28/02
A quadrinha, quadra ou trova é a célula-mãe das demais estrofes que ensinarei a compor no curso Na Rima*, tanto por escrito quanto de modo repente.
O formato da quadra é bastante simples – todo mundo, na certa, deve estar lembrado do “Batatinha quando nasce…”, einh? Constituída de quatro versos (nome que se dá a cada linha de uma estrofe), cada um desses versos tem sete sílabas (a contagem das sílabas é só até a última sílaba tônica da palavra que termina a linha ). As rimas, chamadas de consoantes (em que há correspondência total de sons a partir da vogal da última sílaba tônica do verso), devem acontecerentre o segundo e o quarto versos.
O poeta Fernando Pessoa, que sempre gostou de escrever quadras, nos deixou uma coletânea com o sugestivo nome de “Quadrinhas ao gosto popular”. Das mais de cem que escreveu, peguei a seguinte:
O que sinto e o que penso
de ti é bem e é mal.
É como quando uma xícara
tem o pires desigual.
Observem como o que escrevi acima se encaixa na estrofe.
Pois bem, a paradinha é a seguinte: enviem as suas quadrinhas para o e-mail oie@agenciafervo.com.br até dia 28/02; aquelas que mais “pegarem” a mim e a minha equipe, iremos mostrar no meu site e Face ao longo deste mês. Topam?
Reservo ainda para esse certame surpresas que só serão reveladas mais para frente. Vamo-que-vamo!
Quanto ao tema das quadrinhas,
amigo, fique à vontade.
Basta escolher um assunto
plugado a sua verdade…
Abraço/Nobrega
* O curso NA RIMA, que irei dar no Brincante, acontece entre 19h30 e 22h das segundas-feiras do primeiro semestre, a partir de 11 de março. Matrículas abertas: http://bit.ly/
Hoje, 23 de abril é um dia especial. É o dia do choro e também o de aniversário de um dos seus maiores representantes: Pixinguinha, que se vivo estivesse completaria 121 anos. Só não disse que o Pixinga foi o maior representante do choro porque tivemos a sorte de ter ainda entre os vários e ilustres compositores e instrumentistas do gênero, o sempre admirado e reverenciado Jacob do Bandolim, que nessa ano de 2018, precisamente no dia 14 de fevereiro, teria completado 100 anos.
E aí tive a ideia de aproveitar a data e lançar, hoje, a campanha Jacob 100 anos. Nela estou solicitando que músicos instrumentistas gravem – pode ser nos celulares – em imagem e som, o choro Gostosinho do Jacob a partir da base de acompanhamento executada pelos competentes músicos Gian Correa, violão sete cordas, e Léo Rodrigues, pandeiro, que estamos postando ao final desse texto. Podem ser gravados tanto solos quanto a base. Envio ainda a partitura (embora ela marque um andamento de 116, estamos tocando um pouquinho mais lento). Então fiquem atentos: é preciso gravar no andamento dessa base para que os nossos amigos e colaboradores Gustavo Vale (engenheiro de som) e Alexandre Amêndola (editor de audiovisual) possam fazer a edição.
Outra coisa: o convite é dirigido a todo e qualquer instrumentista, seja ele de flauta, trombone, marimba, guitarra, baixo, piano, fagote, apito, inclusive a bandas. Sejam todos bem vindos! Vamos fazer uma bela de uma edição audiovisual com os vídeos que nos enviarem. A campanha se estenderá de hoje até o dia 21/07.
Um lembrete importante é que podem participar músicos de todos os lugares e quadrantes do mundo: japoneses, escandinavos, russos, sírios, americanos, italianos, angolanos, conchinchinianos, pasargadianos, etc.
Vamos nessa! Porque, além de homenagearmos Jacob e o choro, a ideia é de criarmos também uma rede de confraternização mundial através da música.
Nesses tempos de antagonismos e falta de entendimento, como é o caso especial do nosso país, a música pode ser um canal de encontro e confraternização. Um canal por onde possa fluir o lado prazenteiro, poético e esperançoso do país, quiçá do mundo… Aquele lado que, pudéssemos traduzir a música de Pixinguinha e Jacob do Bandolim em riqueza social e humana e certamente estaríamos a léguas de distância dos vexames espiritual, político e social porque estamos passando.
Portanto, Hamilton, que ao longo do ano vai lançar a obra completa de Jacob, Marcos Cézar, lá de Recife, Yamandu Costa, Herz e Krassik, Quaternaglia, Hermeto, Henrique Cazes, Gismonti, Banda Silibrina, Capelupi e tantos e tantos outros admiráveis e geniais músicos brasileiros, vamo-que-vamo compor “a mais bela roda de choro que jamais poderia ser realizada”, especialmente para homenagear o grande e querido Jacob.
Partitura que utilizei.
Vídeo da base executada por Gian Correa e Léo Rodrigues.
Áudio dessa mesma base, pra quem preferir ouvir pelo soundcloud.
O e-mail para enviarem suas participações é oie@agenciafervo.com.br.
E para começar dando o exemplo, segue a minha modesta contribuição para a campanha.
Grande Abraço.
Costa da Guiné, Uidá, Golfo de Benim, Forte de São Jorge de Mina, Fortaleza de Ajudá, Luanda, Benguela, são os nomes de alguns portos e regiões da África de onde, por mais de três séculos, em insalubres porões de navios, negros foram despachados para o Brasil. Embora se estime em torno de cinco milhões o número de africanos obrigados a deixar suas famílias, clãs, aldeias, cidades, reinos e puderam, ao desembarcar, ser encaminhados para o trabalho em lavouras de cana, café, algodão, fumo, cacau, interiores das minas, criatório de animais e serviço doméstico, é provável que um número considerável desse contingente tenha sido amortalhado pelas águas do Atlântico.
Quem eram esses homens e mulheres? De quais regiões africanas vieram?
O nosso continente-mãe – não fosse a ausência de terras à nordeste e sua configuração seria idêntica à do Brasil – se derrama através de 30.000.000 m2 de superfície numa extensão de norte a sul de 8.000 km e de 7.600 km de leste a oeste. Dividida em cinco grandes regiões, a África tem uma magnitude que não se restringe ao fato de ter sido o berço da nossa espécie. É lá ainda onde se encontram os maiores desertos, savanas, florestas, rios e lagos do planeta, onde são faladas um terço das línguas existentes no mundo e vivem centenas de etnias que se distribuem entre cinquenta e cinco países.
Uma classificação ainda corrente das etnias trazidas para o Brasil, nos foi dada pelos precursores dos estudos afro-brasileiros no país, Nina Rodrigues e Arthur Ramos. Ela se apoia na ideia de que os povos que vieram para o Brasil seriam representadas por dois grandes grupos ou macroetnias: os sudaneses e bantos. Os primeiros seriam provenientes da vasta região que fica ao sul do deserto do Saara, denominada pelos árabes que ocuparam norte da África de o “país dos negros” – Bilad-Es-Sudan. Reuniriam as etnias Iorubá, Ketu, Ohori, Ifonyin, Anagô, efiks, ibipios, Adjás, Mahis, fon, ewe, mahi, as islamizadas haúças, mandingas e fulas, entre dezenas de outras. Essas etnias ocupariam as regiões onde hoje se encontram o Sudão, Chade, Níger, Togo, Guiné, Benim, Nigéria e Costa do Marfim.
Os bantos, de longínqua e antiga origem, habitariam a extensa faixa de terra onde atualmente se encontram Angola, Congo, Zaire, Namíbia, Zâmbia, Tanzânia e Moçambique. Fariam parte dessa grande família as etnias Cabinda, Benguela, Macua, Angico, Caçange, Rebolo, Muxincongo, Moçambique, Monjolo, Quimbundo, Umbundo, entre também inúmeras outras. As línguas faladas pelos sudaneses e bantos fazem parte do maior conglomerado linguístico do mundo, o tronco nigero-congolês, que reúne 1524 idiomas. Entre aqueles mais falados no Brasil estariam, pela lado banto, o quicongo, o quimbundo e o ambundo, etc., e pela linhagem benuê-congolesa, o Iorubá, o fon e o ewe.
Embora tais línguas não sejam faladas no cotidiano brasileiro, o rastro de suas presenças está em toda parte. A mesma presença que se observa na cultura corporal do brasileiro em geral.
O texto “Os Africanos” compõe o livro Com Passo Sincopado – Em busca de uma linguagem brasileira de dança de Antonio Nóbrega. Conheça o projeto contemplado pelo Prêmio Funarte de Dança Klauss Vianna 2014: http://bit.ly/2hiAaco