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Instituto Brincante, Universidade de Princeton e UFRJ realizam jornada sobre as manifestações populares brasileiras

By Antonio Nóbrega | 17 agosto 2017 | Sem Comentários


Fazer Pensar Brasil reúne pesquisadores das três instituições. Evento está marcado para 25/08.

Estudiosos de diferentes partes do Brasil se reúnem no dia 25 de agosto no Teatro Brincante para a jornada Fazer Pensar Brasil. Com uma série de palestras e rodas de conversas, a iniciativa é uma parceria entre o Instituto Brincante, a Universidade de Princeton e a Universidade Federal do Rio de Janeiro. A discussão gira em torno das manifestações chamadas de populares, a partir de experiências e disciplinas diversas.

O tema ganha sentido especial na atualidade e proporciona a amplitude necessária para o debate. Afinal, os valores, conteúdos e formas do que se identifica como popular podem ser ressignificados e terem papel e função social no mundo em que vivemos? Na encruzilhada histórica por que passamos, trata-se de pensar coletivamente uma questão já velha, mas que nos pede novas configurações: podemos ser modernos e “populares” ao mesmo tempo?

A lista de palestrantes inclui Pedro Meira Monteiro, Antonio Nóbrega, Ricardo Teperman, Paulo Iumatti, Lilia Schwarcz, José Miguel Wisnik, Heloisa Buarque de Hollanda, Lira Neto, Rosane Almeida, Maurício Hoelz, Paulo Dias, André Botelho e André Ricardo Heráclio do Rêgo.

 

Programação:

9h30 – 11h30 – mesa 1: Desafios e missões: o mundo além da escrita (mediação: Antonio Nóbrega)
Pedro Meira Monteiro
André Botelho
Maurício Hoelz
Lilia Moritz Schwarcz

11h50 – 12h30 – Atividade com Rosane Almeida

14h00 – 16h – Mesa 2: Escuta e política nos Brasis (mediação: Pedro Meira Monteiro)
Heloísa Buarque de Hollanda 
Ricardo Teperman 
José Miguel Wisnik 
André Ricardo Heráclio do Rêgo

16h20 – 18h20 – Mesa 3: Batuque, samba e poesia (mediação: André Botelho)
Antonio Nóbrega 
Paulo Teixeira Iumatti 
Paulo Dias 
Lira Neto

18h20 – 19h – Encerramento
Antonio Nóbrega 
André Botelho
Pedro Meira Monteiro

 

Palestras

“Questão de mais-Brasil menos-Brasil”: brasilidade além do nacionalismo em Mário de Andrade
André Botelho
Brasilidade, identidade nacional e nacionalismo não são termos intercambiáveis no léxico de Mário de Andrade, e talvez também noutros autores modernistas. São categorias sem dúvida relacionais, pois ganham significados uma em relação às outras, mas não são exatamente equivalentes. Podem, antes, assumir não apenas significados diferentes, como sentidos distintos no próprio interior do projeto modernista de Mário e em relação às diferentes conjunturas do seu contexto social e intelectual. Buscar distinguir essas categorias e qualificá-las do ponto de vista do autor constitui tarefa premente e tão mais importante à medida que se trata de restituir a complexidade própria da obra de Mário de Andrade, e de seu contexto original, ambos extremamente disciplinados pela rotinização de paradigmas normativos e teleológicos voltados à discussão da formação da identidade nacional e do nacionalismo cultural no Brasil moderno. A restituição da complexidade dessas categorias e de seu inter-relacionamento mais dinâmico e contingente é, ademais, condição para que se possa divisar outros sentidos mais contemporâneos na obra de Mário de Andrade. Nesta apresentação, permanecerei nos limites dos prefácios não publicados de Macunaíma e no diálogo epistolar com Alceu Amoroso Lima em torno deles, bem como na crítica pioneira que este publicou, inclusive pelo seu papel decisivo nos termos da recepção que o principal livro do autor acabaria conhecendo, tão importante para os problemas de que então nos ocupamos.  

O sertão no imaginário brasileiro
André Ricardo Heráclio do Rêgo
Trata-se de fazer um breve apanhado da ideia, da representação dos sertões ao longo da história, do século XV até hoje, sobretudo no que se refere ao imaginário brasileiro, mas sem esquecer o português e o africano. A ideia de sertões é essencial na discussão da identidade nacional (se é que podemos ainda utilizar esse termo num contexto tão multicultural quanto o nosso), e ela tem uma de suas mais fortes expressões e repercussões justamente no mundo da cultura popular (se é que podemos ainda utilizar esse termo…). Mas não só: ela repercute fortemente na cultura dita erudita, seja na área de ficção, seja na na ensaística, seja na música, seja na literatura, seja na história, seja na geografia. O fio condutor, ou o fio da meada, quem o dará, como não poderia deixar de ser, serão Ariano Suassuna e João  Guimarães Rosa, sobretudo este último, quando ele disse:  “Sendo o sertão assim – que não se podia conhecer, indo e vindo enorme, sem começo, feito um soturno mar, mas que punha à praia o condão de inesperadas coisas”; “Quase todo o mundo tinha medo do sertão, sem saberem nem o que o sertão é”.

Uma poética para o Brasil
Antonio Nóbrega
Por onde conversam e ainda mais poderiam conversar os Brasis.

Fracassos e escuta na Universidade das Quebradas
Heloisa Buarque de Hollanda
Nesta apresentação, vou me permitir falar em primeira pessoa. Não definiria esta opção como um testemunho, mas como um relato simples dos impasses epistemológicos e da procura de uma perspectiva de intervenção, enquanto intelectual ligada à universidade pública, cuja trajetória profissional é inaugurada no espanto da descoberta e na escuta do outro. Hoje a tradução cultural, a alteridade, a diferença, enfim o encontro, ou mesmo embate, com o outro são questões que povoam nossas preocupações teóricas e políticas, sem dúvida, urgentes neste momento de crescentes e implacáveis xenofobias e intolerâncias. É desse ponto de vista que apresentarei o Laboratório de Tecnologias Sociais, chamado Universidade das Quebradas, criado em 2009, na UFRJ. A missão deste laboratório é a de articular professores, pesquisadores e alunos da universidade com os intelectuais, artistas, ativistas e produtores culturais das periferias, já com um trabalho relativamente consolidado, e experimentar formas de produção de conhecimento compartilhada. O encontro de saberes de pesos e níveis de legitimação diferenciados traz, de início, medo e perplexidade. As diferenças tornam-se mais contrastadas e o não reconhecimento deste percalço é fatal. Os repertórios acadêmicos diante do saber vernacular ou popular comportam-se mal. Ou os atores acadêmicos facilitam seu conhecimento subestimando a capacidade de escuta dos atores periféricos, ou supervalorizam a produção das periferias, considerada mais forte porque vem da “experiência verdadeira”, ante a uma possível carência de informação ou conhecimento empírico dos processos expressos na produção científica lato sensu. Por outro lado, os atores das periferias se intimidam, de forma surpreendente e mesmo inesperada, ao se conectarem com este novo território. Difícil evitar armadilhas. A tradução cultural é falha em ambos os casos. O compromisso com o exercício de uma escuta forte parece uma saída razoável.  

A influência deletéria do urbanismo
José Miguel Wisnik
Se Mário de Andrade resguarda a música popular autêntica, a certa altura do Ensaio sobre a música brasileira, da “influência deletéria do urbanismo”, isto é, do mercado e da influência estrangeira, colocam-se algumas questões difíceis sobre a natureza do popular. Será este, necessariamente, a manifestação de comunidades rurais, de caráter anônimo e coletivo, manifestado epifanicamente, em certos momentos, por indivíduos que carregam em si o grupo, ao serem carregados por ele? Qual seria então o lugar do popular na música popular urbana que floresceu com o mercado industrial de canções gravadas? É notável, a esse respeito, que Mário não tenha voltado a sua atenção, em nenhum momento, para seu contemporâneo Noel Rosa, embora acompanhasse com atenção os lançamentos de música popular gravada. Vai nessa omissão sintomática uma forma mental, de fundo estético (os românticos alemães) e religioso (a aura popular como sendo o espírito de um mundo sem espírito no raiar da universalização da mercadoria). Embora o tempo seja curto para isso, interessaria perseguir sinais dessa questão filosófico-religiosa (e política) nas fagulhas de um atrito entre Ariano Suassuna e Caetano Veloso.

Lima Barreto e seus subúrbios
Lilia Schwarcz
Pode-se dizer que Lima Barreto escreveu uma literatura em trânsito. Ele tomava todos os dias o trem da central e da sua janela observava arquiteturas, personagens, tipos e passageiros. O afeto que guardava por seus subúrbios, diante das práticas populares que via, era imenso. Afeto como identificação e mudança diante do que se observava.

A gênese do samba: entre a festa e a agonia 
Lira Neto
Como o moderno samba urbano, criação coletiva nascida em meio aos espaços de comunidades negras na virada do século XIX para o século XX, praticado nos fundos dos quintais pobres e alheio aos modernos conceitos de autoria, passou à condição de um dos símbolos máximos de uma suposta “identidade nacional”?

Na pancada do ganzá: um livro de amor inacabado
Maurício Hoelz
A primeira linha do prefácio do inacabado Na pancada do ganzá, de Mário de Andrade – cujo subtítulo é “Subsídios para conhecimento da vida popular brasileira, especialmente do Nordeste” –, afirma ser esse não um livro de ciência, mas um “livro de amor”. Nele, está em jogo compreender a cultura popular por meio da empatia (“Ouvi o povo, aceitei o povo”), substituindo o discurso sobre ela por um diálogo com ela que pudesse levar ao reconhecimento dos seus portadores sociais em sua dignidade e alteridade plenas – sem recair numa visão fetichizada e triunfalista da autenticidade popular -, e a formas mais descentradas, plurais e inclusivas de identidades coletivas. Nesse gesto de abertura para a diferença (“um ato de amor”) residiria a potência democrática de transformação das relações sociais pelo exercício da solidariedade, que tem no diálogo a forma mais absoluta de conhecimento da alteridade étnica e cultural. Nas suas próprias palavras, no prefácio: “Do fundo das imperfeições de tudo quanto o povo faz, vem uma força, uma necessidade que, em arte, equivale ao que é a fé em religião. Isso é que pode mudar o pouso das montanhas”.

A fumaça que sobe dos nossos quintais
Paulo Dias
Sugestionado pela frase acima, tirada de um jongo do compositor paulistano Daniel Reverendo, pretendo conversar sobre os batuques de terreiro do sudeste, sua ancestralidade e atualidade, no retraçar permanente das conexões simbólicas e sociais dos grupos celebrantes.

Utopia e absurdo no Brasil contemporâneo: reflexões a partir dos folhetos de cordel
Paulo Teixeira Iumatti
O gênero cordelístico do Marco atualiza o antigo paradigma da poesia como monumento perene, baseando-se na afirmação desafiadora de uma excelência poética insuperável. Surgido no âmbito da cantoria no século XIX, e transposto para a escrita dos folhetos de cordel, ele parece constituir em si mesmo um paradoxo, podendo ser visto, também, como instrumento de disputas envolvendo a reiteração ou a contestação de um lugar subordinado (social, racial, simbólico). Apresentando-se como um intrincado enigma, o Marco foi utilizado e resignificado por cantadores, poetas e intelectuais ao longo do século XX, oscilando entre os registros do utópico e do absurdo. Em nossa comunicação, discutiremos sentidos e apropriações do Marco em diferentes contextos, e suas possíveis derivações para a compreensão dos dilemas do país no mundo contemporâneo.

“Não é pra ouvir, é pra gente se deixar ouvir”: a liturgia do canto, de Mário de Andrade a Alfredo Bosi
Pedro Meira Monteiro
Entre o transe místico e o êxtase coletivo desenrolam-se algumas das práticas tidas por populares, fundando aquilo que, de Mário de Andrade a Alfredo Bosi, identifica-se a uma liturgia da comunidade. Tal serviço, entoado pelo povo, coloca a comunidade diante de seu sentido transcendente, a um só tempo distante e próximo, mas feito tangível pelo canto. A pergunta que nos guia, neste caso, recai sobre o papel do indivíduo na revelação dos impulsos e da verdade do grupo. Quem é aquela pessoa que, de repente, parece carregar a voz da comunidade e é por ela carregada?

Paratodos, para os pobres, pra ninguém
Ricardo Teperman
A ideia do “fim da canção” diagnostica o esgotamento do grande projeto modernista de construção de uma cultura brasileira “para todos”, que orientou a bossa-nova, o tropicalismo e boa parte dos vários desdobramentos da MPB a partir dos anos 1970. O rap apresentado pelos Racionais MCs na virada dos anos 1990 representou uma grande novidade na medida em que era feito dos “pobres para os pobres” , desprezando tanto a ideia de povo por trás da letra P, de popular, como a ideia de nação encerrada no B de Brasil. Ao anunciarem a “reforma agrária na música popular brasileira”, adotando procedimentos estéticos e mercadológicos consagrados na tradição hegemônica da MPB, Emicida e Criolo propõem incluir a navalha de Mano Brown no prestigioso retrato feito pela rolleyflex de Caetano e Chico. É um gesto que tem lhes garantido enorme aceitação de público e crítica, mas que também tem decorrências cujo impacto ainda está por ser avaliado – entre os riscos que correm estão notadamente a diluição da verve crítica e a relativa perda de capacidade de representação das camadas mais pobres e marginalizadas.

Atividade com Rosane Almeida
Nossa Ciranda
Iremos dançar uma boa e velha ciranda.
Vamos usar esse momento para descansar a cabeça e deixar o corpo encontrar seus caminhos e nos levar para um novo ambiente físico e sonoro.
Vamos aproveitar  alguns princípios recorrentes das manifestações populares para construir a nossa ciranda.

 

SERVIÇO
Fazer Pensar Brasil
25/08 das 9h às 19h 
Instituto Brincante
ENTRADA FRANCA
Sujeito à Lotação
Pré-inscrição: http://bit.ly/FazerPensarBrasil
Informações: http://bit.ly/FazerPensarBrasil_Eevento
Mediação: Antonio Nóbrega (Instituto Brincante), Pedro Meira Monteiro (Princeton) e André Botelho (UFRJ) 
Realização: Instituto Brincante, Princeton University e UFRJ
Produção Geral: Silas Redondo

 

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