Espetáculo
1982

“Maracatu Misterioso” encarna a velha tradição dos espetáculos de ponta-de-rua e de beira-de-estrada. É uma viagem através do universo mítico brasileiro — ou uma incursão aos arquétipos, cujas representações permanecem vivas e atuantes na cultura popular. É essa viagem-retorno ao antigo e arcaico e, em um sentido mais amplo, ao religioso, o que marca o caráter da jornada que é o espetáculo.

Para realizá-la, Antonio Nóbrega assume o posto de folgazão que tanto pode ser um cantador (como no caso do “Romance do Rei D. Sebastião” ou do “Desafio” com o repentista Inácio)., quanto um decadente cantor de cançonetas italianas. Tanto um dançador debochado e sentimental que executa “par-de-dois”com Minervina, sua “partner”, quanto o bailarino endemoniado e lírico, a um só tempo, do último número do espetáculo.

Em sua “misteriosidade”, o multiartista entende que o espetáculo teatral assemelha-se a uma caixinha mágica repleta de surpresas encantadoras e fantásticas, prontas a se revelarem de onde menos se espera. O grande crítico Sábato Magaldi, em um generoso texto à época, inclusive, usou o seguinte título: “Nóbrega, todo o mistério do teatro”.