By Antonio Nóbrega | 24 abril 2022 | Sem Comentários
Antonio Nóbrega-Wilson Freire
Arranjo Edson Alves
Nem na faca, nem no grito,
nem na tapa, nem na bala,
nem na forca, nem na força,
nem na dor que a tudo estala.
Minha voz não silencia
porque poeta não cala.
Nem no açoite, nem no tiro,
nem na lança que empala,
na angústia, na tortura,
nem na morte que avassala.
Minha voz não silencia
porque poeta não cala.
Minha voz vem do peito e da garganta
de Homero, de Lorca e Lourival,
Bob Dylan, Leminski e João Cabral,
de Camões, de Cecília que encanta.
É a voz que exalta, grita e espanta
a amargura, a tristeza, e a tudo embala.
É o grito do mundo, da senzala,
de Drummond, Vilanova e Neruda.
Da beleza e do sonho não desgruda…
É que a voz de um poeta nunca cala.
Nem no fogo, afogado,
nem no ódio que embala,
nem no berro, nem no ferro,
nem na cela, sem a fala.
Minha voz não silencia
porque poeta não cala.
Nem na tranca, nem no tranco,
nem no tronco da senzala.
Nem na trama, nem no golpe,
na mentira que entala!
Minha voz não silencia
porque poeta não cala.
O racismo, a mentira e a opressão
são doenças dos tempos, são as cáries
que alimentam terrores e barbáries,
abrem portas para a destruição.
A poesia é uma arma, é munição,
um antídoto, o fortim, o sentimento
libertário e liberto como o vento,
que na paz se encerra e principia.
A poesia é escudo e armamento
contra o ódio que cega e silencia.