By Antonio Nóbrega | 3 novembro 2016 | Sem Comentários
O banjo que estou oferecendo a quem escrever um belo e azeitado Galope à beira-mar (mais informações sobre como participar podem ser encontradas aqui), foi usado por João Sidurino no espetáculo Segundas Histórias. João Sidurino? É o narrador das aventuras do inigualável Tonheta! João é amasiado com Rosalina del Jesus e ambos percorrem as areias do deserto da Namíbia, as auto estradas da Bélgica, as geleiras da Groelândia, etc. difundindo e relatando os extraordinários feitos do estupendo Tonheta.
Mas não é dessa trinca que irei falar agora. O meu assunto hoje é o Galope à beira mar. Para que vocês concorram da melhor maneira possível à oferenda, darei as informações básicas sobre como escrever um Galope à beira mar. Antes das instruções, todavia, vou pedir primeiramente para que deem uma atenciosa olhada na estrofe que está logo aí embaixo. Meu pedido é que procurem perceber, por vocês mesmos, a configuração e particularidades dessa estrofe criada pelos cantadores populares nordestinos. Lá vai:
Então, meia noite, anjos emissários
em conta de sete, de aura azulada,
falaram pra ele punhando as espadas:
“és tu o escolhido, Bispo do Rosário.
Terás de fazer o teu inventário
e reconstruir o universo sem par,
pra diante de Deus tu te apresentar
vestido em teu manto vermelho-centelha”.
Entrou no hospício da praia vermelha
cantando galope na beira do mar.
Leram e examinaram?
Agora, vamos lá:
1. Trata-se de uma estrofe de dez versos, linhas ou pés;
2. Cada um desses versos tem onze sílabas, portanto a estrofe é uma “hendecassílaba”;
3. Todos os versos rimam entre si: o primeiro com o quarto e o quinto; o segundo com o terceiro; o sexto com o sétimo e o décimo; e o oitavo com o nono;
4. Cada um dos versos é acentuado na 2ª, na 5ª e na 11ª sílaba para dar maior cadência musical;
5. A estrofe é obrigada a terminar com um mote ou frase que faça alusão à beira do mar. No nosso caso esse mote será: “cantando com o banjo na beira do mar”.
Observem agora a mesma estrofe com algumas marcações para facilitar a compreensão dos tópicos expostos acima.
Então, meia noite, anjos emissários A
em conta de sete, de aura azulada, B
falaram pra ele, punhando as espadas: B
“és tu o escolhido, Bispo do Rosário. A
Terás de fazer o teu inventário A
e reconstruir o universo sem par, C
pra diante de Deus tu te apresentar C
vestido em teu manto vermelho-centelha”. D
Entrou no hospício da praia vermelha D
cantando galope na beira do mar. C
Aproveito, ainda, para apresentar em seguida as demais estrofes que compõem a canção Galope para o Bispo do Rosário, criada por mim e pelo poeta, amigo e parceiro Wilson Freire.
Aí agarrou-se àquela missão.
Mas todos diziam que era loucura.
Sozinho a sentir a dor, a agrura
de ter de fazer a reconstrução.
De enorme tarefa e tudo à mão
só tinha sucata para começar.
Sem barro de Adão para ele soprar,
só cacos de vidro e tacos de telha.
Ali no hospício da praia vermelha
cantando galope na beira do mar.
Juntando pedaços de panos, caixotes,
com pregos, botões, colheres, canecos,
flanelas, lençóis, agulhas, chinelos,
brinquedos, moedas, um velho holofote,
lutou contra todos, virou Dom Quixote…
Com lixo a empreitada pode terminar.
Até que um anjo o veio buscar,
e aí, com meu Deus, fizeram parelha.
Saiu do hospício da Praia vermelha
cantando galope na beira do mar.
Fechando: quem quiser saber quem foi o Bispo do Rosário basta dar um breve passeio pela Internet que irá encontrar uma infinidade de informações sobre esse grande brasileiro; quem tiver interesse em escutar a canção, é só se encaminhar para o spotify ou adquirir o CD Marco do Meio Dia que será vendido no bazar à preço de banana; quem tiver vontade de aprender um pouco mais sobre rimas e versos, é comigo mesmo! Sou o cara! Estarei no primeiro semestre no Brincante ensinando como se escreve e se tira de improviso emboladas, galopes, sextilhas, etc. e etc.
Acompanhe a programação do Instituto para 2017. Brincante 25 anos.
Abraços,
Nóbrega, SPaulo. 1/11/16
PS: o ganhador do banjo será anunciado no lançamento do Bazar do Brincante, uma feira de CDs, DVDs e outras relíquias que fizeram os primeiros 24 de história do Instituto.