By Antonio Nóbrega | 10 outubro 2016 | Sem Comentários
Chegança
Sou Pataxó,
sou Xavante e Cariri
Ianomâmi, sou Tupi,
Guarani, sou Carajás.
Sou Pancararu,
Carijó, Tupinajé,
Potiguar, sou Caeté,
Fulniô, Tupinambá.
Depois que os mares
dividiram os continentes
quis ver terras diferentes,
eu pensei: “vou procurar
um mundo novo,
lá depois do horizonte,
levo a rede balançante
pra no sol me espreguiçar”.
Eu atraquei
num porto muito seguro,
céu azul, paz e ar puro,
botei as pernas pro ar.
Logo sonhei
que estava no paraíso
onde nem era preciso
dormir para se sonhar.
Sou Pataxó,
sou Xavante e Cariri,
Ianomâmi, sou Tupi,
Guarani, sou Carajás.
Sou Pancararu,
Carijó, Tupinajé,
Potiguar, sou Caeté,
Fulniô, Tupinambá.
Mas de repente
me acordei com a surpresa:
uma esquadra portuguesa
veio na praia atracar.
Da grande nau,
um branco de barba escura,
vestindo uma armadura
me apontou pra me pegar.
Assustado,
dei um pulo lá da rede,
pressenti a fome, a sede,
eu pensei: “vão me acabar”!
Me levantei
de borduna já na mão,
ai, senti no coração:
o Brasil vai começar!
By Antonio Nóbrega | 10 outubro 2016 | Sem Comentários
Carrossel do destino
Deixo os versos que escrevi,
as cantigas que cantei,
cinco ou seis coisas que eu sei
e um milhão que esqueci.
Deixo esse mundo daqui,
selva com lei de cassino.
Vou renascer num menino
num país além do mar.
Licença, que eu vou rodar,
no carrossel do destino
Enquanto eu puder viver
tudo o que o coração sente,
o mundo estará presente
passando sem resistir.
Na hora que eu for partir
para as nuvens do divino,
que a viola seja o sino
tocando pra me guiar.
Licença que eu vou rodar
no carrossel do destino.
Romances e epopeias
me pedindo pra brotar
e eu tangendo devagar
a boiada das ideias.
Sempre em busca das colmeias
onde brota o mel mais fino
e um só verso, pequenino,
mas que mereça ficar.
Licença que eu vou rodar
no carrossel do destino.
By Antonio Nóbrega | 10 outubro 2016 | Sem Comentários
Canudos
Eu, viandante de um chão poento,
dias queimosos, vida sem idílio.
Preces voltadas para sóis ardentes,
luares claros a buscar o auxílio.
Para os meus olhos, confusão pasmosa,
batalha surda, secular martírio.
Ai, desatino!
Ai, meu penar!
Ai, velho medo!
Sombra e malpassar!
Vi mamelucos, pardos, vi cafuzos,
rostos marcados: um santo sudário.
Em Bom Conselho, Bendegó, Pontal,
vi conselheiro rezar solitário.
E anunciando o inverno benfazejo,
em Monte Santo subiu pro calvário.