Blog


O brincar, por um brincante

By Antonio Nóbrega | 14 maio 2013 | Sem Comentários

Antonio Nóbrega participou de uma série de conversas durante o projeto Ocupação Antonio Nóbrega no Itaú Cultural, que aconteceu nos meses de abril e maio deste ano.
Nesse papo, ele debate sobre a origem do brincar e suas variantes.
Confira!





Afinal, quem é Tonheta?

By Antonio Nóbrega | 30 março 2013 | Sem Comentários

Posso dizer que eu João Sidurino, epopeísta, mestre de cerimônias, rapsodo, coreografador, cantador, homem-banda e encenador, só decidi-me a revelar ao mundo as extraordinárias façanhas do industrioso Tonheta o carroceiro andante, depois que conheci Rosa-lina de Jesus, ex-rumbeira e malabarista do famoso circo Alakazan, hoje minha única, insuperável e inseparável partner e companheira de toda vida. Só com a união de nossas qualidades e exuberantes habilidades artísticas é que tal empresa seria possível. Mas quem é esse fabuloso Tonheta, cujas crônicas se acham dispersas em velhos alfarrábios desaparecidos, cujas histórias a quintessência dos meus sentidos mal pode escutar das longínquas vozes daqueles que há séculos foram conduzidos para o Outro-lado, amém?
Queridos amigos: Tonheta vive em mim como uma espécie de… pedrinha-caroço (tais são as palavras que me ocorrem!) que lateja sem parar no âmago profundólogico da minha essência abismal recôndita! Será Tonheta então, por isso, um ser invisível? Vejamos. Quando rodamos, eu e Rosalina, com nosso Circo-Teatro Brincante pelas estradas do país, encontramos pelas feiras e praças velhos cantadores que contam as aventuras de João Grilo, Pedro Mala-zartes. Canção de Fogo, como se sabe, nomes menos usuais com que Tonheta é alcunhado. Um dia desses, ali perto do trevo que leva a Águas de Totorobó, encontramo-nos com Mestre Saúba, um folgazão completo assim como eu, que brincava (atuava, para quem não é versado em nomenclatura tonhetânica) com o seu Bendito na sua tolda de mamu-lengos. Ora, consabidamente se sabe que Benedito e Tonheta são a mesma e única criatura!
Mas, voltando à minha pedrinha-caroço que lateja, afirmo que o que me faz verdadeiramente relatar as bravatas e facécias do admirável Tonheta não é nada mais nada menos do que um imponderável impulso que se transforma numa louca vontade de brincar com o mundo, de nele fazer cócegas, um desejo íncontrolável de lambuzar-me na desordem primitiva: dançando, pulando, cantando, piruetando, pinotando, mimicando, berrando, assobiando, gingando, mugangando, até atingir o meu gozo no êxtase caótico da paz celestial endiabrada. >Às vezes as pessoas me dizem: tempos difíceis esses em que vivemos. Concordo. Só que, em sendo mestre-de-cerimônias, epopeísta etc. e tal, eu, João Sidurino, também conhecido como Mestre Siduca, não posso calar-me. Mestre que é mestre ensina, aconselha, serve para alguma coisa. Por isso digo sempre: queridos amigos meus, tonhetai-vos uns aos outros!





Nascimento do Brincante II- O calhambeque-bi-bi-te

By Antonio Nóbrega | 31 dezembro 2012 | Sem Comentários

Se o espetáculo e o teatro Brincante nasceram ali no ano de 1992, o espírito brincante eu já carregava comigo desde há muito tempo.
Quando ainda era menino tinha com minhas irmãs um conjunto musical em que cantava, tocava e até vez por outra inventava de representar. Com esse grupo eu interpretava músicas de Roberto Carlos, dos Beatles, música francesa, espanhola, música clássica e também músicas minhas. Só não era realmente a mistureba do samba do crioulo doido porque samba mesmo era o que menos executávamos. Ou seja, a música que cantávamos e tocávamos era basicamente aquela que ouvíamos nas rádios, na nascente televisão e a que praticávamos na Escola de Belas Artes de Recife onde estudava violino. Ainda para reforçar a minha simpatia pelo espírito brincante, devo informar a todos que por três vezes entrei nos concursos de canto e declamação do colégio Marista, onde estudava. Tinha, acho, de doze pra treze anos. Pois bem, durante os consecutivos três anos eu tracei todos os primeiros lugares…! É mole? Na categoria canto, com as músicas Calhambeque e Arrastão e na categoria declamação com o poema de Vinícius de Morais O Operário em Construção.
Não sei se vocês podem me imaginar cantando, num ano, o Calhambeque-bi-bi-te (versão Roberto Carlos) de calça de helanca azul boca de sino, colada na bunda, sapato de fivelão prateado e, noutro ano, arremessando os braços pra lá e pra cá, pra cima e pra baixo, no bom estilo Elis Regina, cantando a canção Arrastão do Edu Lobo. Pois foi o que aconteceu.
Consequentemente, portanto, quando em 1970 , a partir do convite de Ariano Suassuna para integrar o Quinteto Armorial, eu comecei a me interessar pelo universo dos brincantes populares, o meu espírito já estava preparado para fazer aquele grande mergulho brincante-cultural que me conduziu até aqui.
Posso dizer que tomar conhecimento dos brincantes ou folgazões, dançadores e músicos populares foi, naquela ocasião, como se eu tivesse sendo acometido de uma espécie de profundológico abalo sísmico cultural.
Imaginem novamente vocês que até aquele momento eu nunca tinha ouvido falar de bumba-meu-boi, maracatu, rabeca, cantadores, coco, embolada, mateus, frevo, etc. Aquele era para mim realmente um “admirável mundo novo” que se descortinava. Era o próprio realismo mágico em pessoa se revelando para mim.
Aliás, por essa época eu andava lendo o livro Sonhos, Memórias e Reflexões de Jung. Uma obra que guarda um pouco da mesma atmosfera onírica, lunar e cheia de maravilhas que eu descobria naquele universo que começava a vivenciar. Junguiando esse texto, acho que esse período corresponderia na minha vida a uma espécie de “iniciação aos mistérios do povo brasileiro”. Uso, aliás, a palavra mistério glosando um pouco aquele sentido dado a ela pelos antigos gregos quando iniciavam-se nos mistérios eleusinos. Através desses mistérios celebravam o regresso de Perséfone, representação mítica do retorno das plantas e da vida à terra no ciclo da primavera. De certa forma era isso o que eu sentia mesmo: uma espécie de retorno ou reencontro comigo mesmo, com as forças telúricas e vitais da minha natureza primaveril, através do rico e caudaloso imaginário popular. Durante vários e vários anos esse imaginário cultural por meio de cantos, danças, ritmos, entremeios teatrais, etc., me tomaria até à medula.
Bem, acho que vou parando por aqui hoje. Mas como não acabei ainda o danado do assunto Nascimento do Brincante, voltarei a ele ainda…
Salve.





Nascimento do Brincante I – Chegada em SP

By Antonio Nóbrega | 30 novembro 2012 | Sem Comentários

Há vinte anos atrás criamos eu e Rosane o Brincante. O que é hoje o Instituto Brincante – batizado inicialmente com o nome de Teatro e Escola Brincante – nasceu das primeiras apresentações dadas aqui em São Paulo do espetáculo que resolvemos chamar de…Brincante. Estávamos precisamente em novembro de 1992. No começo do ano o espetáculo tinha sido estreado no 1º Festival de Teatro de Curitiba. Como encontramos dificuldades em encontrar aqui em São Paulo um teatro que se dispusesse a nos acolher nos fins de semana, encasquetamos com a ideia de fundar o nosso próprio teatro. Foi assim mesmo, tão simples como estou narrando. Morávamos perto da Vila Madalena e foi por lá que iniciamos a nossa procura. Não me recordo que tenha sido difícil encontrar o imóvel que viria se transformar na nossa segunda casa paulistana. Não tão fácil, todavia, foi transformar aqueles dois velhos e arruinados galpões em um teatro e numa sala de aula sem ter nenhum capital e com uma força de trabalho inicialmente constituída de dois adultos e duas crianças… Mais isso é uma outra história.
Mas de onde vem esse nome brincante?
Essa é uma palavra que nos é muito preciosa. Não só pela carga afetiva que nos traz mas também devido à sua riqueza semântica. Com efeito, brincante é a maneira mais comum com que são conhecidas e chamadas em muitas regiões do Brasil, notadamente no Nordeste, aquelas pessoas por nós denominadas de artistas populares. Essa palavra é uma espécie de arcaísmo ainda presente em nosso português popular brasileiro que, como facilmente se deduz, vem do verbo brincar significando no Brasil oficial, digamos, unicamente aquela atividade lúdica exercida pelas crianças. No universo da linha de tempo cultural popular, todavia, brincar significa mais do que isso. Significa atuar, representar, dançar mas num sentido que nós já perdemos. É representar, dançar, etc. tanto para divertir-se quanto para entreter os demais. Na verdade, é uma espécie de divertir-se brincando com os outros. Ao que nós denominamos de espetáculo, os brincantes preferem chamar de Brincadeira ou Brinquedo. Ou seja, a brincadeira popular é o território onde se exerce o espírito lúdico, cuja definição dada pelo Johan Huizinga no seu fundamental livro Homo Ludens, casa à medida. Está lá escrito o seguinte: “o jogo – que traduzo por brincadeira – é uma ocupação voluntária, exercida dentro de certos limites de tempo e espaço, segundo regras livremente consentidas, mas absolutamente obrigatórias, dotado de um fim em si mesmo, acompanhado de um sentimento de entusiasmo e de alegria e de uma consciência de ser diferente da vida cotidiana”. É ou não é a própria definição da brincadeira popular?
Mas bem, dei início a esse texto pensando em falar sobre o nascimento do espetáculo Brincante e terminei por enredar-me na história da palavra. Como não quero cansá-los, vou deixar a continuação desse assunto para a próxima conversa. De qualquer forma, deixo a todos o meu brincanteabracito.
Inté.





Olhem eu aqui de novo!

By Antonio Nóbrega | 15 outubro 2012 | Sem Comentários

Amigos.
Estou de site novo. Acho que desde 2010 ando desiteado…
Ao relançá-lo estou também prometendo a mim mesmo, dessa vez, dar-lhe um pouquinho mais de atenção. Pelo menos para honrar o trabalho desse pessoal nos trinques que o colocou no ar: o Tales que o programou, o Gabriel, meu filho (aquele que um dia tocava bateria e pandeiro nos meus shows e espetáculos…) que criou a sua identidade-designer e a Juliana que vai me ajudar a mantê-lo atualizado e divulgar um pouco das minhas atividades artísticas.
Na verdade, os sites me parecem belos murais onde podemos colar um pouco de tudo. No meu caso ele é uma espécie de mural-feira-do-mangaio: nele vocês irão encontrar textos informativos sobre os meus espetáculos de música, de teatro e de dança; músicas dos meus cds e dvds; galeria de fotos e de vídeos; o que ando artisticamente fazendo; e até site dentro do site que é o tal do hotsite, no caso, o da “companhia antonio nobrega de dança” que criei. É muita coisa para caber em tão diminuto artefato que cada vez fica menor… Quando penso no tempo dos meus quinze anos em Recife, a grande revolução naquela época era termos telefone em casa…Na verdade, hoje em dia, o computador é uma grande engenhoca-reunião de várias pequenas máquinas: telefone, filmadora, máquina de datilografia, gravador, calculadora, etc. Eu quando comunico-me, via escaipe, com minha filha Maria Eugênia, que foi dar um pulinho ali em Cochin (será que é a abreviatura de Cochinchina?) na Índia para estudar a dança Kathakali, utilizo-me de três dos seus recursos: nos vemos, nos falamos, e quando ela me fala algum estranho, por exemplo, o do seu mestre de dança, peço-lhe para que o escreva no pé da página do escaipe. O serviço é completo!
Falando de computador, relembro-me de uma sextilha do grande poeta pernambucano Oliveira de Panelas a ele dedicado. Penso que ela é a sua mais original definição. Reparem:

“Quem fez o computador,
tinha bom conhecimento.
Composto por três palavras,
com-puta-dor, belo invento,
se faz de preposição,
meretriz e sofrimento.

É ou não é? Bem, gente amiga, está dado, como se diz por aí, o pontapé inicial do meu novíssimo site. Espero que eu consiga fazer a bola bem rolar…
Abraços




ARQUIVO