By Antonio Nóbrega | 8 março 2017 | Sem Comentários
Quebrando coco
de praia, de Catolé,
perguntei-me o que é
que com este mundo há?
Como num filme
preto e branco e a cores,
cheio de risos e dores,
eu agora vou narrar.
Começo em Minas
onde a VALE se derrama.
Sobre o vale um mar lama,
sobre um povo e um lugar.
Matando a fauna,
bicho homem e toda flora.
Hoje a natureza chora
do Rio Doce até o mar.
Eu vi as bolsas
despencarem nos pregões
euro, dólar, meus tostões,
onde é que vão parar?
Vão para os bolsos
do mercado financeiro
que governa o mundo inteiro
sem ninguém para vetar.
Lá pela Síria
eu vi bombas a granel.
Feito chuva, vêm do céu
destruir tudo o que há.
Bomba francesa,
bomba norte americana,
bomba russa e muçulmana,
e a bubônica bomba Agá
E as multidões
dos exilados das guerras
procuram por uma terra
onde em paz possam ficar.
Cruzam desertos
com fome, sede e com medo.
Muitos têm como degredo
naufragar, morrer no mar.
Fecham fronteiras,
erguem cercas, paredões,
campos de concentrações,
currais de gente sem lar.
Intolerância
política e religiosa,
combinação perigosa
que já vimos no que dá.
E a Palestina
peleja com Israel
por um chão sob este céu,
por um mar pra navegar.
Ter o direito
de ser livre e ser nação.
Essa paz e a comunhão
quero um dia aqui cantar.
E o terrorismo,
no tempo do meu avô,
era um filme de terror
no cineminha de lá.
Hoje é um fantasma
que assombra, é um sistema,
não é coisa de cinema,
mas é, sim, de assustar.
Esse meu xote
pega tudo isso e junta,
e aí faço a pergunta:
para onde o mundo irá?
É uma questão
que roda a terra e não descansa,
ainda tenho a esperança,
de que isso passará.
Minha canção
é do meu tempo, é um diário
que acompanha o calendário
do que vejo pra informar.
Numa outra vez
o assunto se renova
e a notícia Boa Nova
eu espero aqui contar.
Música feita numa parceria de Antonio Nóbrega com o poeta Wilson Freire, apresentada nos shows de carnaval 2017
By Antonio Nóbrega | 10 outubro 2016 | Sem Comentários
Chegança
Sou Pataxó,
sou Xavante e Cariri
Ianomâmi, sou Tupi,
Guarani, sou Carajás.
Sou Pancararu,
Carijó, Tupinajé,
Potiguar, sou Caeté,
Fulniô, Tupinambá.
Depois que os mares
dividiram os continentes
quis ver terras diferentes,
eu pensei: “vou procurar
um mundo novo,
lá depois do horizonte,
levo a rede balançante
pra no sol me espreguiçar”.
Eu atraquei
num porto muito seguro,
céu azul, paz e ar puro,
botei as pernas pro ar.
Logo sonhei
que estava no paraíso
onde nem era preciso
dormir para se sonhar.
Sou Pataxó,
sou Xavante e Cariri,
Ianomâmi, sou Tupi,
Guarani, sou Carajás.
Sou Pancararu,
Carijó, Tupinajé,
Potiguar, sou Caeté,
Fulniô, Tupinambá.
Mas de repente
me acordei com a surpresa:
uma esquadra portuguesa
veio na praia atracar.
Da grande nau,
um branco de barba escura,
vestindo uma armadura
me apontou pra me pegar.
Assustado,
dei um pulo lá da rede,
pressenti a fome, a sede,
eu pensei: “vão me acabar”!
Me levantei
de borduna já na mão,
ai, senti no coração:
o Brasil vai começar!
By Antonio Nóbrega | 10 outubro 2016 | Sem Comentários
Carrossel do destino
Deixo os versos que escrevi,
as cantigas que cantei,
cinco ou seis coisas que eu sei
e um milhão que esqueci.
Deixo esse mundo daqui,
selva com lei de cassino.
Vou renascer num menino
num país além do mar.
Licença, que eu vou rodar,
no carrossel do destino
Enquanto eu puder viver
tudo o que o coração sente,
o mundo estará presente
passando sem resistir.
Na hora que eu for partir
para as nuvens do divino,
que a viola seja o sino
tocando pra me guiar.
Licença que eu vou rodar
no carrossel do destino.
Romances e epopeias
me pedindo pra brotar
e eu tangendo devagar
a boiada das ideias.
Sempre em busca das colmeias
onde brota o mel mais fino
e um só verso, pequenino,
mas que mereça ficar.
Licença que eu vou rodar
no carrossel do destino.
By Antonio Nóbrega | 10 outubro 2016 | Sem Comentários
Canudos
Eu, viandante de um chão poento,
dias queimosos, vida sem idílio.
Preces voltadas para sóis ardentes,
luares claros a buscar o auxílio.
Para os meus olhos, confusão pasmosa,
batalha surda, secular martírio.
Ai, desatino!
Ai, meu penar!
Ai, velho medo!
Sombra e malpassar!
Vi mamelucos, pardos, vi cafuzos,
rostos marcados: um santo sudário.
Em Bom Conselho, Bendegó, Pontal,
vi conselheiro rezar solitário.
E anunciando o inverno benfazejo,
em Monte Santo subiu pro calvário.