By Antonio Nóbrega | 27 março 2019 | Sem Comentários
Depois do conteúdo que Antonio Nóbrega lançou nas redes, explicando brevemente a estrutura da forma poética conhecida por quadra, quadrinha ou trova e convidando os leitores a exercitar e nos enviar suas composições, recebemos muitos e-mails. Ao todo, foram mais de 70 quadras dos mais variados temas, enviadas de 16 cidades de todas as regiões do Brasil.
É sempre muito bacana fazer ações coletivas com temáticas da cultura brasileira. Já aconteceu uma roda de choro virtual a partir da música Gostosinho, do Jacob do Bandolim, um certame poético dentro da modalidade Galope à Beira Mar, e agora esse exercício coletivo de Quadras.
Vale à pena dedicarmos um pouco da nossa energia criadora a esse Brasil tão rico que temos!
Abaixo você poderá encontrar todas as contribuições que estavam dentro das regras formais passadas por Nóbrega no convite (os vídeos com as explicações também estão no final deste post).
O Curso Na Rima ministrado por Antonio Nóbrega já começou no Instituto Brincante e vai até junho. Fique de olho nas próximas turmas!
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Alexandra Hercilia Pereira Silva
Pois se a vida algo valesse
Não se “morria” feito cão
Na rua, na lama, no frio
Mas, hoje em dia, #valenao
XXXXXXXXXXXXX
Matemática é “mia” vida
E poeta “mia” profissão
Bem melhor do que uma prova é
Uma quadra-demonstração
XXXXXXXXXXXXX
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Beth Cruz
Vem raízes de outrora
Vem unir o mundo inteiro
Fluí no eco dos tambores
O quilombo brasileiro
XXXXXXXXXXXX
Precisamos um do outro
Para o bem sempre fazer
Pois o mundo tá carente
Deixe o bem te envolver
XXXXXXXXXXXXXX
Pele preta, pele branca
Olhares de cor sem cor
Todo sangue é vermelho
Mas colorido é o amor
XXXXXXXXXXXXXX
Num bom livro que eu reli
Encontrei uma verdade
Cativeiro tão cruel
Psique da humanidade
XXXXXXXXXXXXXXX
A plantinha que eu mais gosto
É o pé do alecrim
Eu colhi lá no quintal
Pra você e para mim
XXXXXXXXXXXXX
Bordei seu lindo nome
Num tecido de algodão
Disseste-me ao ouvido
Borde em seu coração.
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Eduardo Augusto de Castro Serique
Minha amada está tão longe,
O destino quis assim.
Eu, aqui, choro por ela
E ela, lá longe, por mim.
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Elena Almeida
O carnaval do Recife
Sempre é muito bacana.
A alegria rola solta,
Ela é pernambucana!
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Gláucia Melo
Se você é bem esperto
Já percebe a loucura
Acabou a liberdade
Estamos na ditadura
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Graziela Barduco
Na saudade de outra vida
Vislumbrei amor eterno
Levantei-me destemida
Mas em ti vi meu inferno.
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Guto Maia
O pedreiro ergue um muro
No fundo do meu quintal;
Se cai e mata o vizinho,
Quem tem a culpa afinal?
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J.P. Caetano
Antes fosse mameluco
Encardido ou caiçara
Cariboca pele clara
Mas sou cidadão do mundo.
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Luiz Antonio Cintra
Sete sílabas, a quadra
Formada pra lhe enviar
Perguntei aonde deságua
O rio do meu sonhar?
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Marco Aurélio Romano
TROVEANDO
Acordado o meu brincante
Apoiado num só pé
Sonha com a ARTE errante
Acreditando com FÉ
Nobre Nobrega Antonio
Tourino ARIANO
Onde ARTE é notório
Faz-se circo num só pano
Quadrinhas, quadras, trovas
E como se faz então?
Segue a roda da ciranda
Vai abrindo o coração
Chora vai essa rabeca
Quero ouvir seu som manhoso
Mostra vai sua poesia
Brilho raro e precioso
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Maria Cândida Figueira
Canta, canta passarinho…
Mas não caia em armação.
Ao te darem uma fruta…
Depois dela, tua prisão!
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Pedi ontem à Jaci
Em estrela me tornasse,
Para ficar bem pertinho
De Naiá, num doce enlace…
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Nesta cantiga de roda
Vou de saia e vou bem lento…
Pra que não caiam as flores
Da saia e do pensamento!
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Avistei lá da janela
Brilhando muito num galho
Pensei ser um diamante
Era gota de orvalho
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Dentro de cada semente
Há prontinha uma história
Louca para nos contar
O que guarda na memória
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Vou acordar de manhã
Só pra ver nascer o sol
Pegarei um dos seus raios
Ao jogar o meu anzol
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Desse olhar canavial
Bem quietinho, bem parado,
Cacei jeito de ficar
Não do seu, mas destilado.
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Na luta da lagartixa
Com o inseto imprudente
Torço pra ela um bocado
Porque ela é transparente
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Quede carruagem de luxo?
Quede coloridas penas?
Foi só num piscar de olhos
E eram nuvens apenas
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Se do pó viemos nós
Só me explica, por favor,
Por que nos transfigurar
Em rejeitos, lama e horror?
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Matheus Violante
AROMA DAS MANHÃS
Nas mãos trazes uma xícara
Na cabeça, um novelo
Não sei qual cheiro mais gosto
Do café ou do cabelo!
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Mauro Vieira de Barros
DESDENHANDO A SINA
Pra que desdita chorada?
Pra que silencioso pranto
Prefiro a toada triste
Prefiro um amargo canto
Sou neste circo, um palhaço
E da saudade eu desdenho
Eu te abraço velha viola
E outra modinha eu desenho
Se um falso amor me despreza
Faço de conta que é um bem
Velhas paixões são inverno
E a primavera já vem
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Nerivan Barboza
Quando eu disse que fazia
Eu inda não tinha feito
Por isso é que tive tempo
Pra poder fazer direito
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Meu Brasil que tanto amo
Já sofreu tanta miséria
A mais recente é a vale
Cobrindo o povo de ter
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Um sabiá cantador
Fazendo festa na árvore
Me traz saudades da roça
Da infância e as traquinagem
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Já fui menino e hoje moço
Olho pra trás e reparo
Quantos sonhos esquecidos
No meio do imaginário
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Menina daquela casa
Da cor do sol de mei’ dia
De longe eu te imagino
Como de perto seria
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Paulo Vitor Albuquerque
Acontece em brumadinho
A tragédia anunciada
Prenda a cúpula da vale
Pois ela não vale nada
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Paulo Frederico Costa
JURA
Ela me fez uma jura,
folha que o vento levou,
e o tempo, que tudo cura,
só a mim que não curou.
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Ricardo Evangelista
Acordei de língua solta,
Há desordem no progresso.
Eu não troco minha roupa,
Quando rimo sou possesso
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Rodrigo Chianca Azevedo
O meu signo é Pernambuco,
Ascendente, Paraíba
Minha lua é em Gonzagão,
O meu sol é em Capiba
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
O povo lá do sertão,
Do meu Nordeste em geral,
Sofre muito com descaso
Do governo Federal
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Me entristece saber,
Que a cultura popular,
Do meu Nordeste querido
Vem perdendo o seu lugar
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Fui no Carnaval de Olinda,
Quatro cantos da cidade,
Caí no passo do frevo
Hoje só levo a saudade
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Só queria que um dia,
Nessa imensa nação,
A prioridade fosse
Cultura e educação
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Como todo passarinho
Que nasceu para voar,
Bem distante do seu ninho
Você não vai mais voltar
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Guardo no meu coração,
A saudade que me mata
Não escondo, meu amor!
Que eu sinto a sua falta
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Do jeito que a coisa anda
Do jeito que o mundo afunda,
A mente vai virar corpo,
Cérebro vai virar bunda
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
O governo às vezes acha,
Que seu cidadão não come
Só assim para aceitar,
Que o pobre morra de fome
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Morena diga pra mim,
Se queres meu coração
Cuidado com que respondes
Posso morrer de paixão
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Se eu fosse passarinho,
Pra bem longe ia voar
Deixava logo essa terra
Atrais de um novo lar
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
E se eu fosse peixinho,
Sozinho eu ia pro mar
Procurar alguém que quisesse
Alguém para lhe amar
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Querida, dinheiro não tenho
Pra lhe comprar uma flor
Garanto não vai faltar
Poesia e muito amor
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Sergio Tück
Se escolas são pessoas
Quem segura a ventania?
De um povo consciente
Educado na cidadania.
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Roda-roda, rola e gira
Brinca, joga, pula e dança
Ouve história noite e dia
Deixa o tempo da criança.
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Vem de cima para baixo
Segue cego sem mistério
Sem partido, sem sentido
Educação sem ministério.
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Se nasci nesse Brasil
Mar e céu todinho azul
Quem me separou criança
Da América do sul?
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Stélio Torquato Lima
Uma gotinha do mar,
Afogada em desengano,
Certo dia, ao despertar,
Se descobriu oceano…
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Tânia Monnerat
A CARA DO BRASIL EM VERSOS
Uma tela vou pintar
Com a cara do Brasil
Mas que cor predominar
Se ele tem nuances mil?
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Professor é profissão
É importante pilar
Professor é a raiz
Que o que faz é plantar
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Tânia Grinberg
Brincando com as palavras
viajei por mil lugares,
habitei grandes castelos,
Voei livre pelos ares.
Conheci todos os nomes
das pessoas, os olhares.
Então vi, dentro de mim,
sonhos interestelares:
Um mergulho nas estrelas,
em minha nave Solaris,
aqueceu meu coração
com ecos familiares.
Pois de longe olhei a terra,
com seus rios azuis e mares,
e me vi vivendo nela
caminhando com meus pares.
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Vinícius Ferreira Martins
Lutar sempre é o caminho
Mais nobre do sonhador
É bom conhecer o espinho
Pra valorizar a flor.
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Tem dias que ela se ausenta
Há noites que ela me invade
É relação turbulenta
A de quem possui saudade.
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Confira o convite que foi feito por Nóbrega!
Aqui o artista dá dicas sobre o formato das quadrinhas
Nóbrega lê algumar participações
By Antonio Nóbrega | 28 janeiro 2019 | Sem Comentários
Leia a explicação abaixo e envie seus versos até dia 28/02
A quadrinha, quadra ou trova é a célula-mãe das demais estrofes que ensinarei a compor no curso Na Rima*, tanto por escrito quanto de modo repente.
O formato da quadra é bastante simples – todo mundo, na certa, deve estar lembrado do “Batatinha quando nasce…”, einh? Constituída de quatro versos (nome que se dá a cada linha de uma estrofe), cada um desses versos tem sete sílabas (a contagem das sílabas é só até a última sílaba tônica da palavra que termina a linha ). As rimas, chamadas de consoantes (em que há correspondência total de sons a partir da vogal da última sílaba tônica do verso), devem acontecerentre o segundo e o quarto versos.
O poeta Fernando Pessoa, que sempre gostou de escrever quadras, nos deixou uma coletânea com o sugestivo nome de “Quadrinhas ao gosto popular”. Das mais de cem que escreveu, peguei a seguinte:
O que sinto e o que penso
de ti é bem e é mal.
É como quando uma xícara
tem o pires desigual.
Observem como o que escrevi acima se encaixa na estrofe.
Pois bem, a paradinha é a seguinte: enviem as suas quadrinhas para o e-mail oie@agenciafervo.com.br até dia 28/02; aquelas que mais “pegarem” a mim e a minha equipe, iremos mostrar no meu site e Face ao longo deste mês. Topam?
Reservo ainda para esse certame surpresas que só serão reveladas mais para frente. Vamo-que-vamo!
Quanto ao tema das quadrinhas,
amigo, fique à vontade.
Basta escolher um assunto
plugado a sua verdade…
Abraço/Nobrega
* O curso NA RIMA, que irei dar no Brincante, acontece entre 19h30 e 22h das segundas-feiras do primeiro semestre, a partir de 11 de março. Matrículas abertas: http://bit.ly/
By Antonio Nóbrega | 23 abril 2018 | Sem Comentários
Hoje, 23 de abril é um dia especial. É o dia do choro e também o de aniversário de um dos seus maiores representantes: Pixinguinha, que se vivo estivesse completaria 121 anos. Só não disse que o Pixinga foi o maior representante do choro porque tivemos a sorte de ter ainda entre os vários e ilustres compositores e instrumentistas do gênero, o sempre admirado e reverenciado Jacob do Bandolim, que nessa ano de 2018, precisamente no dia 14 de fevereiro, teria completado 100 anos.
E aí tive a ideia de aproveitar a data e lançar, hoje, a campanha Jacob 100 anos. Nela estou solicitando que músicos instrumentistas gravem – pode ser nos celulares – em imagem e som, o choro Gostosinho do Jacob a partir da base de acompanhamento executada pelos competentes músicos Gian Correa, violão sete cordas, e Léo Rodrigues, pandeiro, que estamos postando ao final desse texto. Podem ser gravados tanto solos quanto a base. Envio ainda a partitura (embora ela marque um andamento de 116, estamos tocando um pouquinho mais lento). Então fiquem atentos: é preciso gravar no andamento dessa base para que os nossos amigos e colaboradores Gustavo Vale (engenheiro de som) e Alexandre Amêndola (editor de audiovisual) possam fazer a edição.
Outra coisa: o convite é dirigido a todo e qualquer instrumentista, seja ele de flauta, trombone, marimba, guitarra, baixo, piano, fagote, apito, inclusive a bandas. Sejam todos bem vindos! Vamos fazer uma bela de uma edição audiovisual com os vídeos que nos enviarem. A campanha se estenderá de hoje até o dia 21/07.
Um lembrete importante é que podem participar músicos de todos os lugares e quadrantes do mundo: japoneses, escandinavos, russos, sírios, americanos, italianos, angolanos, conchinchinianos, pasargadianos, etc.
Vamos nessa! Porque, além de homenagearmos Jacob e o choro, a ideia é de criarmos também uma rede de confraternização mundial através da música.
Nesses tempos de antagonismos e falta de entendimento, como é o caso especial do nosso país, a música pode ser um canal de encontro e confraternização. Um canal por onde possa fluir o lado prazenteiro, poético e esperançoso do país, quiçá do mundo… Aquele lado que, pudéssemos traduzir a música de Pixinguinha e Jacob do Bandolim em riqueza social e humana e certamente estaríamos a léguas de distância dos vexames espiritual, político e social porque estamos passando.
Portanto, Hamilton, que ao longo do ano vai lançar a obra completa de Jacob, Marcos Cézar, lá de Recife, Yamandu Costa, Herz e Krassik, Quaternaglia, Hermeto, Henrique Cazes, Gismonti, Banda Silibrina, Capelupi e tantos e tantos outros admiráveis e geniais músicos brasileiros, vamo-que-vamo compor “a mais bela roda de choro que jamais poderia ser realizada”, especialmente para homenagear o grande e querido Jacob.
Partitura que utilizei.
Vídeo da base executada por Gian Correa e Léo Rodrigues.
Áudio dessa mesma base, pra quem preferir ouvir pelo soundcloud.
O e-mail para enviarem suas participações é oie@agenciafervo.com.br.
E para começar dando o exemplo, segue a minha modesta contribuição para a campanha.
Grande Abraço.
By Antonio Nóbrega | 26 outubro 2017 | Sem Comentários
Costa da Guiné, Uidá, Golfo de Benim, Forte de São Jorge de Mina, Fortaleza de Ajudá, Luanda, Benguela, são os nomes de alguns portos e regiões da África de onde, por mais de três séculos, em insalubres porões de navios, negros foram despachados para o Brasil. Embora se estime em torno de cinco milhões o número de africanos obrigados a deixar suas famílias, clãs, aldeias, cidades, reinos e puderam, ao desembarcar, ser encaminhados para o trabalho em lavouras de cana, café, algodão, fumo, cacau, interiores das minas, criatório de animais e serviço doméstico, é provável que um número considerável desse contingente tenha sido amortalhado pelas águas do Atlântico.
Quem eram esses homens e mulheres? De quais regiões africanas vieram?
O nosso continente-mãe – não fosse a ausência de terras à nordeste e sua configuração seria idêntica à do Brasil – se derrama através de 30.000.000 m2 de superfície numa extensão de norte a sul de 8.000 km e de 7.600 km de leste a oeste. Dividida em cinco grandes regiões, a África tem uma magnitude que não se restringe ao fato de ter sido o berço da nossa espécie. É lá ainda onde se encontram os maiores desertos, savanas, florestas, rios e lagos do planeta, onde são faladas um terço das línguas existentes no mundo e vivem centenas de etnias que se distribuem entre cinquenta e cinco países.
Uma classificação ainda corrente das etnias trazidas para o Brasil, nos foi dada pelos precursores dos estudos afro-brasileiros no país, Nina Rodrigues e Arthur Ramos. Ela se apoia na ideia de que os povos que vieram para o Brasil seriam representadas por dois grandes grupos ou macroetnias: os sudaneses e bantos. Os primeiros seriam provenientes da vasta região que fica ao sul do deserto do Saara, denominada pelos árabes que ocuparam norte da África de o “país dos negros” – Bilad-Es-Sudan. Reuniriam as etnias Iorubá, Ketu, Ohori, Ifonyin, Anagô, efiks, ibipios, Adjás, Mahis, fon, ewe, mahi, as islamizadas haúças, mandingas e fulas, entre dezenas de outras. Essas etnias ocupariam as regiões onde hoje se encontram o Sudão, Chade, Níger, Togo, Guiné, Benim, Nigéria e Costa do Marfim.
Os bantos, de longínqua e antiga origem, habitariam a extensa faixa de terra onde atualmente se encontram Angola, Congo, Zaire, Namíbia, Zâmbia, Tanzânia e Moçambique. Fariam parte dessa grande família as etnias Cabinda, Benguela, Macua, Angico, Caçange, Rebolo, Muxincongo, Moçambique, Monjolo, Quimbundo, Umbundo, entre também inúmeras outras. As línguas faladas pelos sudaneses e bantos fazem parte do maior conglomerado linguístico do mundo, o tronco nigero-congolês, que reúne 1524 idiomas. Entre aqueles mais falados no Brasil estariam, pela lado banto, o quicongo, o quimbundo e o ambundo, etc., e pela linhagem benuê-congolesa, o Iorubá, o fon e o ewe.
Embora tais línguas não sejam faladas no cotidiano brasileiro, o rastro de suas presenças está em toda parte. A mesma presença que se observa na cultura corporal do brasileiro em geral.
O texto “Os Africanos” compõe o livro Com Passo Sincopado – Em busca de uma linguagem brasileira de dança de Antonio Nóbrega. Conheça o projeto contemplado pelo Prêmio Funarte de Dança Klauss Vianna 2014: http://bit.ly/2hiAaco
By Antonio Nóbrega | 12 setembro 2017 | Sem Comentários
Foi no fim de tarde de um domingo na Casa de Cultura de Recife, assistindo pela primeira vez uma apresentação de um Bumba-meu-boi e acompanhando deslumbrado a movimentação da figura de um Mateus, que despertei para dança. Aquela burlesca personagem teatral vestida com calça e camisa de chita, de pés descalços, segurando uma espécie de bastão ou baliza com fitas multicores amarradas numa das suas extremidades, dançando, gesticulando, faceciando, mugangando, galhofando ali bem à minha frente, me deixava completamente aturdido, desconcertado, hipnotizado…e com uma incontrolável vontade de fazer aquilo que ele fazia…
Tinha 19 anos nessa ocasião e alguns meses atrás havia sido convidado por Ariano Suassuna para integrar o Quinteto Armorial. Ariano me assistira tocando o concerto de Mi M de Bach para violino numa apresentação que fizera na Igreja de São Pedro dos Clérigos, local de habituais concertos na cidade, e achara que eu era a pessoa talhada para o posto. Ora, quem seria eu para negar-lhe tal convicção?…
Só alguns anos depois é que compreendi que aquele convite representara a senha, o passaporte de entrada para um mundo, até àquela época, inteiramente desconhecido para mim. Esse convite mudaria lenta e indelevelmente não só o meu modo de praticar e fazer arte, como a minha maneira de ver e pensar o Brasil e o mundo.
Àquela ocasião fazia o primeiro ano do curso de Direito e mantinha estudos formais de música e violino, mas, nem me sentia especialmente vocacionado para as lides jurídicas, nem tampouco achava que dedicar 5, 6 horas de estudo por dia ao violino seria uma atividade que preenchesse integralmente a minha curiosidade e interesses artísticos. Gostava imensamente de ler e escrever e idealizava fazer diplomacia…. Portanto, aquele convite vinha em boa hora.
O primeiro ensaio do Quinteto aconteceu na casa de Ariano. Ali, na sala de visitas de sua casa, no bairro de Casa Forte em Recife, dispusemos nossas estantes de música, colocamos a partitura da música Repente do Antonio José Madureira e, lentamente, sob olhar curioso e atento de Ariano, começamos a tentar traduzir em sons o que aquelas folhas de papel nos indicava. Durante vários anos repetiríamos esse rito. Ali nos encontraríamos para ensaiar as músicas compostas para o grupo por Antonio José Madureira – quem dirigia o Quinteto e seu principal compositor – Generino Luna, Jarbas Maciel, Capiba, Egydio Vieira e por mim. Em verdade, o grupo nasceu como um quarteto formado por uma viola dedilhada, executada pelo Madureira; um violão, pelo Edilson Eulálio; uma flauta, inicialmente tocada pelo Generino Luna e depois sucessivamente pelo Guebinha – José Tavares de Amorim –, Egydio Vieira e, por ultimo, Antonio Fernandes de Farias, vulgo “Pintassilgo”; eu alternava a execução do violino tradicional com a sua versão popular, a rabeca. Não demoraria muito para que um quinto instrumento, o Marimbau, entrasse em cena. Para quem não o conhece trata-se de uma versão um pouco mais completa do que o Berimbau, pois enquanto esse é basicamente um instrumento rítmico – muito embora instaure um campo harmônico quando tocado, em virtude das duas notas, geralmente intervaladas numa segunda maior, tiradas da corda de aço por meio da movimentação da moeda sobre ela – o marimbau permite a execução de uma escala diatônica completa. Não precisarei descrevê-lo, a foto anexa irá fazê-lo melhor que eu.
(…)
Antonio Nóbrega
O texto “Eu e as Danças Populares” compõe o livro Com Passo Sincopado – Em busca de uma linguagem brasileira de dança de Antonio Nóbrega. Conheça o projeto contemplado pelo Prêmio Funarte de Dança Klauss Vianna 2014: http://bit.ly/PassoSincopado
By Antonio Nóbrega | 2 maio 2017 | Sem Comentários
Semba, o espetáculo que criamos juntos eu, músicos e dançarinos em fins de 2016, retorna para mais duas apresentações no Auditório do Ibirapuera nos dias 13 e 14 de maio. Assim como me vali do ensejo de comemoração dos centenários do Frevo (2007) e do nascimento de Luís Gonzaga (2013) para criar espetáculos que reafirmassem dois gêneros fundadores da música e dança brasileiras – frevo e baião – aproveito o biênio 2016/17 para homenagear, tocar, dançar e cantar samba. Como um dos orgulhosos criadores de Semba, opino que é absolutamente impossível (!) alguém desgostar de um espetáculo que relembra canções de Noel, Geraldo Pereira, Ismael, Caymmi, Chico, Paulinho da Viola, reinterpretadas pela “humílima e genial figura” que vos fala (!), recriadas em inspirados arranjos de Edmilson Capelupi e Edson Alves e dançadas em líricas e modernas coreografias criadas e interpretadas por um afiado grupo de bailarinos liderado por Maria Eugênia de Almeida. Portanto, pessoas todas, ao Auditório!
Dito isso, deixando-me levar pelo embalo da escrita, instigado pelo mal-estar geral da nação, e solicitando um tiquinho a mais de sua generosa atenção, aproveitarei ainda para elencar e comentar sucintamente algumas ocorrências desses nossos Temerários dias. O simples fato de tomar conhecimento delas tem me levado por vezes a um tal desmantelo por dentro que, em estado de abobalhada ruminação, fico buscando as “ontológicas” razões pelas quais chegamos a tal desarranjo.
Lá vão:
1
As desoladoras declarações dadas pelo misantropo Charles Cosak sobre sua gestão à frente da biblioteca Mário de Andrade.
Sua atitude em desfavor do samba e do choro – e não é chorinho!!!, que rima com jeitinho, bonitinho, tadinho…: o gênero chama-se Choro! – é preconceituosa e e desaforada, sobretudo por se tratar de um gestor cultural que está à frente de uma instituição que tem como patrono Mário de Andrade. Para fortalecer o meu ponto de vista, aconselho a leitura da crônica do escritor Lira Neto que, estreando domingo coluna na Folha de São Paulo, argumenta nessa mesmo direção.
2
A enviesada cobertura dada pela grande mídia à greve geral. Por meio da mídia de maior alcance, aquilo que foi acidental tornou-se emblemático. Eu que acompanhei pela Av. Pedroso de Morais o grande cordão de manifestantes – cortejo de pelo menos dois quilômetros – posso afirmar que foi tranquilo, dançável até, e, como se diz, ordeiro. Não acho que a presença dos chamados Black blocs (?), ao final, deslegitimou o movimento. Embora vandalismo e quebra-quebra sejam sempre condenáveis, nem sempre são de todo incompreensíveis. Para um governo de tal maneira desorientado e ilegítimo, cujo representante tem a pachorra de afirmar que estamos saindo da recessão no mesmo dia em que é publicada a taxa de desemprego do último trimestre informando que ela atingiu o seu maior patamar, fazem atitudes como a dos arruaceiros parecer não ser tão inadmissíveis! Vale à pena a leitura do comentário da ombudsman Paula Cesarino Costa, da Folha, também publicada no dia 30 de abril.
3
A instabilidade emocional dos integrantes do STF, cuja liderança tem se mostrado frágil. Os ministros falam quando bem lhes apetece, em especial o Gilmar Mendes que, à semelhança de um velho e pastoso coronel, faz e fala o que quer e quando quer. A sua última arbitrariedade foi dar tratamento diferenciado ao apaniguado Aécio Neves permitindo que a sua defesa tivesse acesso, antes do seu interrogatório, aos depoimentos dados por delatores nas investigações sobre a propinagem de Furnas. Se não é ilegal, vai de encontro aos procedimentos habituais da Polícia Federal.
4
A vitória no Congresso da reforma trabalhista e a minha impossibilidade de aceitar mudanças que privilegiam tão abertamente a classe patronal em detrimento da trabalhadora. Atenho-me a dois pontos que, no meu entender, fragilizam a classe dos trabalhadores: a pauperização dos sindicatos, via desobrigação da contribuição sindical (o equivalente a um dia de trabalho anual) e a ausência do estado legislador entre patrão e empregado. Hipoteticamente viver em um Brasil onde sindicatos e empregadores pudessem negociar livremente seria o ideal, mas a nossa performance social, como sabemos, é obscena. Ausentar a mão legisladora do estado é fortalecer ainda mais o patronato e, de resto, as vorazes forças do capital. Ademais, podemos colocar o negociado acima do legislado? No caso brasileiro atual, afirmar essa disposição não seria socialmente retroagir?
A atual paisagem política e social Brasileira é desencantadora. Mas apesar de tudo, apesar da constatação de que o fim desse túnel de frustações está longe de ser vislumbrado, ainda creio que é possível nos agarrarmos a um fiapo de esperança. Uma frágil esperança, sim, mas que poderá se robustecer, na medida em que nos dispusermos a tentar entender verdadeiramente um país cujos infortúnios do momento, podem ser justamente as senhas para dar a volta por cima e entrar no futuro.
Nobrega
By Antonio Nóbrega | 6 março 2017 | Sem Comentários
“Quebrando coco
de praia, de Catolé,
perguntei-me o que é
que com este mundo há?
Como num filme
preto e branco e a cores,
cheio de risos e dores,
eu agora vou narrar.
Começo em Minas
onde a VALE se derrama.
Sobre o vale um mar lama,
sobre um povo e um lugar.
Matando a fauna,
bicho homem e toda flora.
Hoje a natureza chora
do Rio Doce até o mar.
Eu vi as bolsas
despencarem nos pregões
euro, dólar, meus tostões,
onde é que vão parar?
Vão para os bolsos
do mercado financeiro
que governa o mundo inteiro
sem ninguém para vetar.
Lá pela Síria
eu vi bombas a granel.
Feito chuva, vêm do céu
destruir tudo o que há.
Bomba francesa,
bomba norte americana,
bomba russa e muçulmana,
e a bubônica bomba Agá
E as multidões
dos exilados das guerras
procuram por uma terra
onde em paz possam ficar.
Cruzam desertos
com fome, sede e com medo.
Muitos têm como degredo
naufragar, morrer no mar.
Fecham fronteiras,
erguem cercas, paredões,
campos de concentrações,
currais de gente sem lar.
Intolerância
política e religiosa,
combinação perigosa
que já vimos no que dá.
Brasil moderno
vive dando marcha ré,
também dá tiro no pé,
eu aqui vou explicar.
De vez em quando
é uma grande agonia,
contra a democracia
estão sempre a atentar.
Tudo acontece
nos conchavos, na surdina,
tudo à base da propina
como agora vou mostrar.
Saiu uma lista
da Odebrecht construtora,
a grande corruptora
dos políticos de alugar.
Pois esta lista
tem os nomes dos políticos
com apelidos esquisitos
de se rir e se chorar.
É engraçado,
mas também é uma tragédia,
o país perdeu a rédea,
atenção, escute lá.
Quem encabeça
é um sujeito Temeroso,
um político vergonhoso
que não vou pronunciar.
E tem “Caju”,
“Justiça”, “Índio” e “Primo”
tem “Las Vegas”, ói que mimo,
tem “Piquí” e “Angorá”
Tem muita gente,
tem um tal de “Corredor”,
“Goleiro”, “Feia”, ai, senhor!
Tem “Moleza”, pra mamar.
Até “Comuna”,
tem um “Jovem” e um “Velhinho”.
Todos juntos em um ninho
de raposas pra roubar.”
Música feita numa parceria de Antonio Nóbrega com o poeta Wilson Freire, apresentada nos shows de carnaval 2017
By Antonio Nóbrega | 8 fevereiro 2017 | Sem Comentários
Quem me acompanha pelo Blog já deve ter notado que tem diminuído a frequência com que nele compareço com algum texto. É que tomei a decisão de só reanimar a minha presença nele após concluir um livro para o qual há anos venho reunindo pesquisas, anotações, reflexões e até demonstração prática via DVD. Se não tomar a atitude de dar foco especial a esse trabalho, correrei o risco de não concluí-lo à data aprazada.
Mas não é do livro que irei falar. Estou aqui em frente ao meu computador, no alvorecer do dia, rompendo momentaneamente o meu pacto, para, primeiramente, deixar derramar toda a minha contrariedade, frustação, desânimo, consternação, repulsa, asco, etc. etc. pelos fatos de natureza sobretudo política que vêm rasgando o nosso país e nos deixando atônitos, boquiabertos e sedados! O caldeirão de há muito que vem transbordando, mas o seu último enxurro veio com a “boa nova” de que o “presidente” do país – país? Que país? – indicou o atrapalhado e ardiloso Alexandre de Moraes para integrar o STF na vaga do Teori Zavaski. Tal decisão é de uma violência moral aterradora. Bastaria unicamente o fato de que um ministro da “justiça” de um presidente, 34 vezes citado num processo de delação, não poderia ser indicado por esse mesmo “presidente” a ocupar cadeira no tribunal que irá julgá-lo. É um descaramento total! E o pior: caberá a um senado cujo presidente atual e o anterior são também citados inúmeras vezes na mesma delação que atinge o “senhor presidente” a sabatinação! Despudor! E aí, caros? Onde ficamos nós nisso tudo? Com a mesma cara de pasmo, lesificados, com o estômago ardendo e a mente, aflita, latejando? Na expectativa de que algo milagrosamente possa cair do céu e arrumar a Casa Brasil, a pátria amada e cordial de sempre…?
Duvido que os membros do STF esbocem desacordo com a indicação. O caminho mais simples para que essa indecência fosse evitada seria a do próprio indicado seguir o que ele mesmo defende em livro que escreveu em 2000. Basta abri-lo – trata-se de tese de doutorado! – e reler o ponto 103 da conclusão: “É vedado (para o cargo de ministro do STF) o acesso daqueles que estiverem no exercício ou tiveram exercido cargo de confiança no Poder Executivo, mandatos eletivos, ou o cargo de procurador-geral da República, durante o mandato do presidente da República em exercício no momento da escolha, de maneira a evitar-se demonstração de gratidão política ou compromissos que comprometam a independência de nossa Corte Constitucional”. (Os originais da tese – um “tijolo” de 416 páginas – estão disponíveis na biblioteca da USP do Largo de São Francisco.) Embora não concorde com a ideia de que a judialização pública brasileira possa resolver todos os nossos males, o grau de indigência e venalidade alcançado pelo poder executivo e classe política brasileiras é de tal grau que pede, obriga o Poder Judiciário a não se acovardar diante dos fatos.
Quanto a nós, sociedade civil, e retomando, carece que a toda hora, a todo momento – mesmo quando transitoriamente nos afastamos do nosso foco individual de interesse e trabalho – manifestemos o nosso desacordo em relação às atrocidades que nos rondam. “Os mortos enterrem seus mortos, jamais a esperança” (Luz Natal. in Cántico. Jorge Guillén.) As redes estão livres. As ruas continuam abertas (ainda…).
PS: acabei de aderir ao abaixo-assinado contra a indicação de Alexandre Moraes para o STF. Assine você também.
By Antonio Nóbrega | 20 janeiro 2017 | Sem Comentários
Com uma revolta mais contida, volto ao assunto que ontem catalisou todas as crônicas da segunda página do primeiro caderno da Folha de São Paulo e hoje, ainda na mesma página, duas. Foi também ontem, na mesma página, que pude entrar em contato com o esmerado postulado Temeano : “É preciso uma certa ladainha, é preciso repetir, você repete uma vez, duas vezes, três vezes, quatro vezes, como se faz nas missas, toda missa é igual porque você repete os conceitos. Isso vai entrando no corpo, no espírito e na alma.” Perceberam, o que temos como mandatário da nação?
Talvez seja o caso de repetirmos o seu axioma de forma reversa: invocando-o até a exaustão, uma vez, duas vezes, três vezes, quatro vezes, como ele aconselha e quem sabe dessa maneira não consigamos fazer o Geddel pular fora!
Ando realmente inconformado com esse pesadelo! Mas para que não se tenha a errônea impressão de que a minha e nossa revolta e grito é apenas a exteriorização de um simples e passageiro desconforto, basta ler o artigo do Janio de Freitas publicado hoje no mesmo jornal, para medirmos o tamanho da cratera que nos aguarda, caso não fiquemos em alerta máximo e não reajamos.
Não fosse isso, soube agora que a votação dos dez, doze artigos contra a corrupção foi adiada para terça da próxima semana. Até lá a “imaginação criadora” dos nossos congressistas certamente irá tentar desentranhar alguma mirabolante e obscura estratégia em prol da anistia dos “quem deve sempre teme ”.
Fora Geddel
Fora anistia!
By Antonio Nóbrega | 23 novembro 2016 | Sem Comentários
Peraí, pessoal!
Não estamos transformando o país numa nação de atarantados?
De atarantados, aturdidos, apalermados, pacóvios, alienados e anestesiados…?
Diante da consumação de fatos tão despudorados e afrontosos porque temos vivido, aceitar a permanência do ministro Geddel Vieira Lima no posto de Secretário de Governo do senhor Michel Temer é estupidamente se resignar, é como voltar para a cama, puxar o cobertor e só levantar quando a agonia da ressaca diminuir.
Mas peraí, pessoal!
Deve ficar claro que não pode ser assim.
Improbo, aético, hipócrita são algumas discretas palavras que podem ser facilmente atribuídas ao senhor Geddel. Não irei ainda relatar o imbróglio em que se meteu, os jornais e as televisões já o fizeram, e até razoavelmente.
O que falta agora é a nossa parte.
O que está à míngua entre nós, sujeitos e público da nação, é tomarmos posição. Ou melhor, megafonizar nossa posição! O meu ponto de vista é que já está mais do que na hora de espernearmos, de abrirmos o bocão, de irmos todos para as praças, ruas e avenidas do Brasil! Não podemos deixar que nos pisem tão sem dó, tão inescrupulosamente a toda hora, todo dia, sempre!
Portanto: fora Geddel! Fora! Fora!
E aí, pessoal, vamos nessa?