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Fora Geddel, fora anistia!

By Antonio Nóbrega | 20 janeiro 2017

Com uma revolta mais contida, volto ao assunto que ontem catalisou todas as crônicas da segunda página do primeiro caderno da Folha de São Paulo e hoje, ainda na mesma página, duas. Foi também ontem, na mesma página, que pude entrar em contato com o esmerado postulado Temeano : “É preciso uma certa ladainha, é preciso repetir, você repete uma vez, duas vezes, três vezes, quatro vezes, como se faz nas missas, toda missa é igual porque você repete os conceitos. Isso vai entrando no corpo, no espírito e na alma.” Perceberam, o que temos como mandatário da nação?

Talvez seja o caso de repetirmos o seu axioma de forma reversa: invocando-o até a exaustão, uma vez, duas vezes, três vezes, quatro vezes, como ele aconselha e quem sabe dessa maneira não consigamos fazer o Geddel pular fora!

Ando realmente inconformado com esse pesadelo! Mas para que não se tenha a errônea impressão de que a minha e nossa revolta e grito é apenas a exteriorização de um simples e passageiro desconforto, basta ler o artigo do Janio de Freitas publicado hoje no mesmo jornal, para medirmos o tamanho da cratera que nos aguarda, caso não fiquemos em alerta máximo e não reajamos.

Não fosse isso, soube agora que a votação dos dez, doze artigos contra a corrupção foi adiada para terça da próxima semana. Até lá a “imaginação criadora” dos nossos congressistas certamente irá tentar desentranhar alguma mirabolante e obscura estratégia em prol da anistia dos “quem deve sempre teme ”. 

Fora Geddel

Fora anistia!


Fora Geddel

By Antonio Nóbrega | 23 novembro 2016

Peraí, pessoal!

Não estamos transformando o país numa nação de atarantados?

De atarantados, aturdidos, apalermados, pacóvios, alienados e anestesiados…?

Diante da consumação de fatos tão despudorados e afrontosos porque temos vivido, aceitar a permanência do ministro Geddel Vieira Lima no posto de Secretário de Governo do senhor Michel Temer é estupidamente se resignar, é como voltar para a cama, puxar o cobertor e só levantar quando a agonia da ressaca diminuir.

Mas peraí, pessoal!

Deve ficar claro que não pode ser assim.

Improbo, aético, hipócrita são algumas discretas palavras que podem ser facilmente atribuídas ao senhor Geddel. Não irei ainda relatar o imbróglio em que se meteu, os jornais e as televisões já o fizeram, e até razoavelmente.

O que falta agora é a nossa parte.

O que está à míngua entre nós, sujeitos e público da nação, é tomarmos posição. Ou melhor, megafonizar nossa posição! O meu ponto de vista é que já está mais do que na hora de espernearmos, de abrirmos o bocão, de irmos todos para as praças, ruas e avenidas do Brasil! Não podemos deixar que nos pisem tão sem dó, tão inescrupulosamente a toda hora, todo dia, sempre!

Portanto: fora Geddel! Fora! Fora!

E aí, pessoal, vamos nessa?

 


Galope à Beira Mar – Uma pequena aula sobre composição popular por Antonio Nóbrega

By Antonio Nóbrega | 3 novembro 2016

O banjo que estou oferecendo a quem escrever um belo e azeitado Galope à beira-mar (mais informações sobre como participar podem ser encontradas aqui), foi usado por João Sidurino no espetáculo Segundas Histórias. João Sidurino? É o narrador das aventuras do inigualável Tonheta! João é amasiado com Rosalina del Jesus e ambos percorrem as areias do deserto da Namíbia, as auto estradas da Bélgica, as geleiras da Groelândia, etc. difundindo e relatando os extraordinários feitos do estupendo Tonheta.

Mas não é dessa trinca que irei falar agora. O meu assunto hoje é o Galope à beira mar. Para que vocês concorram da melhor maneira possível à oferenda, darei as informações básicas sobre como escrever um Galope à beira mar. Antes das instruções, todavia, vou pedir primeiramente para que deem uma atenciosa olhada na estrofe que está logo aí embaixo. Meu pedido é que procurem perceber, por vocês mesmos, a configuração e particularidades dessa estrofe criada pelos cantadores populares nordestinos. Lá vai:

Então, meia noite, anjos emissários

em conta de sete, de aura azulada,

falaram pra ele punhando as espadas:

“és tu o escolhido, Bispo do Rosário.

Terás de fazer o teu inventário

e reconstruir o universo sem par,

pra diante de Deus tu te apresentar

vestido em teu manto vermelho-centelha”.

Entrou no hospício da praia vermelha

cantando galope na beira do mar.

Leram e examinaram?

Agora, vamos lá:

1. Trata-se de uma estrofe de dez versos, linhas ou pés;

2. Cada um desses versos tem onze sílabas, portanto a estrofe é uma “hendecassílaba”;

3. Todos os versos rimam entre si: o primeiro com o quarto e o quinto; o segundo com o terceiro; o sexto com o sétimo e o décimo; e o oitavo com o nono;

4. Cada um dos versos é acentuado na 2ª, na 5ª e na 11ª sílaba para dar maior cadência musical;

5. A estrofe é obrigada a terminar com um mote ou frase que faça alusão à beira do mar. No nosso caso esse mote será: “cantando com o banjo na beira do mar”.

Observem agora a mesma estrofe com algumas marcações para facilitar a compreensão dos tópicos expostos acima.

Então, meia noite, anjos emissários A

em conta de sete, de aura azulada, B

falaram pra ele, punhando as espadas: B

“és tu o escolhido, Bispo do Rosário. A

Terás de fazer o teu inventário A

e reconstruir o universo sem par, C

pra diante de Deus tu te apresentar C

vestido em teu manto vermelho-centelha”. D

Entrou no hospício da praia vermelha D

cantando galope na beira do mar. C

Aproveito, ainda, para apresentar em seguida as demais estrofes que compõem a canção Galope para o Bispo do Rosário, criada por mim e pelo poeta, amigo e parceiro Wilson Freire.

Aí agarrou-se àquela missão.

Mas todos diziam que era loucura.

Sozinho a sentir a dor, a agrura

de ter de fazer a reconstrução.

De enorme tarefa e tudo à mão

só tinha sucata para começar.

Sem barro de Adão para ele soprar,

só cacos de vidro e tacos de telha.

Ali no hospício da praia vermelha

cantando galope na beira do mar.

Juntando pedaços de panos, caixotes,

com pregos, botões, colheres, canecos,

flanelas, lençóis, agulhas, chinelos,

brinquedos, moedas, um velho holofote,

lutou contra todos, virou Dom Quixote…

Com lixo a empreitada pode terminar.

Até que um anjo o veio buscar,

e aí, com meu Deus, fizeram parelha.

Saiu do hospício da Praia vermelha

cantando galope na beira do mar.

Fechando: quem quiser saber quem foi o Bispo do Rosário basta dar um breve passeio pela Internet que irá encontrar uma infinidade de informações sobre esse grande brasileiro; quem tiver interesse em escutar a canção, é só se encaminhar para o spotify ou adquirir o CD Marco do Meio Dia que será vendido no bazar à preço de banana; quem tiver vontade de aprender um pouco mais sobre rimas e versos, é comigo mesmo! Sou o cara! Estarei no primeiro semestre no Brincante ensinando como se escreve e se tira de improviso emboladas, galopes, sextilhas, etc. e etc.

Acompanhe a programação do Instituto para 2017. Brincante 25 anos.

Abraços,

Nóbrega, SPaulo. 1/11/16

PS: o ganhador do banjo será anunciado no lançamento do Bazar do Brincante, uma feira de CDs, DVDs e outras relíquias que fizeram os primeiros 24 de história do Instituto.

Bazar do Brincante
20 a 27/11
10h às 18h
Rua Purpurina, 412
Lançamento: dia 20/11 das 10h às 18h com canja do Nóbrega às 17h


“Volta Semba”…!

By Antonio Nóbrega | 22 setembro 2016

Compartilho com vocês o texto que recito no show “Semba”. Criado por mim e pelo amigo e poeta Wilson Freire — valeu a paciência! — relatamos um pouco da história do samba nas estrofes abaixo.

Vim com os Negros.

Sou aquele Semba antigo,

no quadril e no umbigo

trouxe eu meu festejar.

Corpo com corpo

chacoalhando na umbigada,

na senzala ou na latada

eu aqui vim pra ficar.

Em toda festa

ritual e brincadeira

me esbanjavam a noite inteira

sem ter hora pra parar.

E com toadas,

palmas e tambor de mão,

bate-pé, poeira e chão

samba foram me chamar.

E em cada canto

onde eu me enraizava,

alguém me rebatizava

com algum nome do lugar:

Cateretê,

Caxambu e Bambelô,

Bate-coxa e Milindô,

e o Coco de embolar.

Mas quando um dia

aboliram a escravatura

e o café perdeu a brancura

que o dinheiro podia dar,

parti com os negros,

mamelucos e mestiços,

em bandos e em rebuliços,

pra no Rio vir morar.

E foi por lá,

nos saraus da Tia Ciata,

onde encontrei toda nata

do choro e do batucar:

o Pixinguinha,

o Sinhô, João da Baiana,

muito mais gente bacana,

todos iam para lá.

E pelas noites

de batuques sincopados,

saracoteios e gingados,

deram de me exaltar.

Me tornei gênero

de música e de dança

e foi dessa aliança

que virei ímpar, sem par.

O meu batismo

como Samba, o meu nome,

foi o “Pelo Telefone”

que o Donga foi registrar.

Mil novecentos

somando mais dezesseis

era o ano e a vocês

ainda eu posso vou contar.

Eu me firmei,

me espalhei pela Mangueira,

Catumbi e Madureira,

em Nilópolis fui pousar.

Mestre Cartola,

Candeia, Carlos Cachaça,

Noel Rosa, o boa praça,

viviam a me semear.

Aí virei

patrimônio coletivo.

E como sou hiperativo

vivo a me transfigurar.

Sou samba-choro

sou pagode e gafieira,

samba-enredo e uma fileira

de mais nomes vim ganhar.

E mais ainda:

sou a festa e a dor,

a tragédia e o amor,

todos vivem a me cantar.

Chico Buarque

e Paulinho da Viola,

João Bosco e a vida rola,

sou o samba e sou sem par.

Eu hoje sou

quase o “Juízo final”,

sou o “País Tropical”,

que não sei se “Vai passar”.

O “trem das onze”,

o “Mestre-Sala dos Mares”,

“Sonho meu”, outros olhares

eu ainda vou lançar.

Eu denuncio

a mentira, a injustiça,

a verdade me atiça,

nada ruim vai me deter.

Sou vigilante

da paz, da democracia,

dia e noite, noite e dia.

Eu não tenho o que temer.

Quem não viu o espetáculo Semba, que apresentei no Sesc Pinheiros de 27/08 a 05/09 — ou quem viu e gostou, bem que poderia começar um movimento direto e já: “Volta Semba”…!